Título: Ciclo de cortes de juros está perto do fim
Autor: Almeida, Cássia; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 19/06/2009, Economia, p. 21

Indicação está na ata da última reunião do Banco Central, que reduziu a taxa básica a 9,25%

BRASÍLIA. O ciclo de queda da taxa básica de juros, a Selic - que na semana passada caiu um ponto percentual, para 9,25% ao ano, pela primeira vez ao patamar de um dígito -, está próximo do fim. Essa foi uma das principais indicações dadas pelo Banco Central (BC) ao divulgar, ontem, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Agora, está se formando o consenso de que os próximos movimentos serão bem mais suaves, com cortes entre 0,25 e 0,5 ponto no próximo encontro, em julho.

- A ata mostrou que o ciclo de corte de juros está próximo do fim, já de olho na inflação de 2010. A minha avaliação é que, agora, será feito mais um corte de 0,5 ponto, totalizando cinco pontos de baixa desde o início do processo (em janeiro) - avaliou o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, acrescentando que uma Selic entre 8% e 8,5% poderia colocar em risco o controle dos preços.

Na ata, a autoridade monetária avalia que a atividade econômica, apesar de já dar sinais de recuperação, ainda caminha a passos lentos. Por isso, acreditam os especialistas, o BC manteve o ritmo de corte de um ponto, quando a maioria esperava uma mexida menos ousada. Após este movimento, seria prudente desacelerar o passo para observar o comportamento da economia.

O Copom informou na ata que, "a despeito de haver margem residual para um processo de flexibilização, a política monetária deve manter postura cautelosa, visando a assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas".

Seguindo esta declaração, o economista do Santander Maurício Molan acredita que o Copom deverá cortar a Selic em 0,25 ponto no próximo mês. Ele descarta pressão inflacionária. O próprio comitê deixa claro que, neste cenário atual, enxerga a inflação de 2009 e de 2010 "em patamares inferiores ao da meta" dos períodos, cujo centro é de 4,5% pelo IPCA.

Apesar do contexto mais positivo, o BC voltou a indicar sutilmente que a questão da poupança pode influenciar a política monetária. Isso porque, com a Selic em seu nível mais baixo, a rentabilidade de muitos fundos de investimento está sendo ultrapassada pela da caderneta, estipulada em 0,5% ao mês mais a variação da Taxa Referencial (TR). Com isso, grandes aplicadores podem migrar para a caderneta e trazer distorções ao mercado.

Não por menos, o Copom afirmou que "entende, também, que a preservação de perspectivas inflacionárias benignas irá requerer que o comportamento do sistema financeiro e da economia sob um novo patamar de taxas de juros seja cuidadosamente monitorado ao longo do tempo". Esse alerta já havia sido colocado nas duas últimas atas (março e abril).

A ata mostrou que a divergência nos votos - com seis diretores optando pelo corte de um ponto e dois, por 0,75 ponto - veio mais pela velocidade nos cortes do que a intensidade total do movimento de flexibilização da política monetária. Ou seja, eles concordam que ainda há espaço para mais cortes, mas divergiram na rapidez com que deveriam vir.

Para Copom, gasolina não ficará mais barata este ano

O Copom também fez uma avaliação de que o cenário internacional está dando sinais mais claros de recuperação. Além disso, mostrou que o comportamento do câmbio, com o dólar mais baixo, deixou de ser um fator de risco inflacionário. Isso porque o país não enfrenta grandes problemas para financiar seu balanço de pagamentos devido à entrada de moeda estrangeira.

- Nos documentos anteriores, o comitê colocava isso como uma preocupação - lembrou o economista-chefe da corretora Ativa, Arthur Carvalho Filho, para quem o BC cortará a Selic em 0,5 ponto em julho, mas não descarta mais uma redução em setembro, de 0,25 ponto.

Apesar de manter sua projeção de preços estáveis para a gasolina e gás de botijão em 2009, o Copom deixou de lado a probabilidade de acontecer alguma redução neste ano ainda, como havia expresso em atas anteriores. Primeiro porque os preços do petróleo voltaram a subir no mercado internacional. Além disso, a Petrobras já anunciou cortes nos preços da gasolina nas refinarias que não chegaram ao bolso dos consumidores, uma vez que o governo decidiu retomar o percentual original da alíquota da Cide.