Título: Investigado, Eduardo Jorge rebate procurador
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2009, Politica, p. 4

Ex-ministro de FHC nega irregularidade financeira, apesar de o Coaf apontar ¿movimentação atípica¿ em suas contas bancárias.

O ex-ministro Eduardo Jorge contra-ataca: ¿Isso é uma armação¿ Desde a última sexta-feira, o ex-ministro Eduardo Jorge tem recolhido documentos fiscais, bancários e imobiliários para um segundo round do embate que travou, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, com o Ministério Público Federal (MPF). Um dia antes, o chefe da Procuradoria da República em Brasília, Lauro Pinto Cardoso Neto, abrira uma investigação criminal contra Eduardo Jorge. O procurador suspeita que o vice-presidente executivo do PSDB possa ter lavado dinheiro com a venda de imóveis em 2007. Mas o ex-secretário-geral da Presidência de FHC, que nega ter cometido irregularidades, ameaça processá-lo por ¿abuso de autoridade¿.

A apuração do MPF tem como ponto de partida um informe encaminhado pelo Conselho de Controle das Ativdades Financeiras (Coaf). Segundo a portaria que instaurou a investigação, Eduardo Jorge teve uma ¿movimentação atípica¿ de R$ 1,47 milhão entre janeiro e agosto de 2007, ¿incompatível com o seu patrimônio e sua ocupação profissional¿. O órgão do Ministério da Fazenda também detectou um ¿depósito de R$ 153 mil¿ na conta-corrente dele feito por Roberto Carlos Nascimento para a compra de um imóvel.

Para subsidiar a investigação, o Coaf remeteu ao procurador um relatório com nomes de pessoas com ¿movimentações financeiras questionáveis, citadas em CPIs relacionadas à grilagem de terras públicas no DF e venda de lotes em condomínios irregulares¿. ¿Isso é uma armação¿, rebate Eduardo Jorge, que já foi alvo em 2005 de uma ação movida pelo mesmo procurador.

Na segunda-feira, o ex-secretário-geral da Presidência mostrou à reportagem documentos que, segundo ele, derrubam a investigação aberta pelo MPF. Primeiro, o Imposto de Renda com patrimônio acima da suposta ¿movimentação atípica¿, sustentando, assim, que tinha lastro bancário compatível com a movimentação financeira do período.

O tucano apresentou ainda papéis que, disse, comprovam a licitude das duas operações questionadas. O ex-ministro de FHC afirmou ter recebido um depósito de R$ 1,3 milhão em 12 de julho de 2007 referente à venda de um imóvel de seu sogro, do qual era inventariante. Oito dias depois, segundo os documentos, transferiu o dinheiro ¿integralmente¿ para a conta do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. ¿Eu pedi ao juiz para abrir uma conta em nome do espólio para receber o dinheiro da venda da casa, mas ele negou¿, declarou.

Segundo ele, os R$ 270 mil restantes têm duas fontes de recursos: R$ 100 mil, de um depósito do banco oriundo de um empréstimo em consignação e os outros R$ 170 mil, dos depósitos da aposentadoria de funcionário do Senado.

Débito em conta Eduardo Jorge disse que o ¿depósito de R$ 153 mil¿, na verdade, é um débito em conta para a emissão de um cheque administrativo. Segundo o tucano, o banco entregou o cheque a Roberto Carlos Nascimento, seu motorista, que lhe repassou. O cheque, afirma, foi entregue como empréstimo para sua cunhada, Isaura Joana Coelho, comprar um imóvel no interior do Rio de Janeiro. Ele diz que o empréstimo e a aquisição do imóvel constam da declaração de IR dos dois.

¿Dessa forma não existe qualquer razão para suspeita de qualquer tipo de regularidade de minha movimentação financeira e nem para comunicação à Coaf e/ou ao MPF¿, critica, em nota. Eduardo Jorge disse que vai à Justiça contra o procurador, o Banco do Brasil, o Coaf e a União por terem conhecimento de seus dados, mas tê-los ignorado.

Por intermédio da assessoria, Lauro Cardoso disse que não se pronunciaria sobre o caso porque a investigação corre sob sigilo. Sem falar do caso Eduardo Jorge, o secretário-executivo do Coaf, Paulo Márcio Rodrigues, afirmou que o órgão trabalha com as informações repassadas pelos bancos. ¿Atuamos com muita responsabilidade, não tendo qualquer papel político¿, declarou Paulo Márcio. A assessoria de imprensa do BB informou que, em respeito ao sigilo bancário do cliente, não comenta operações específicas. O banco ressaltou que, quanto à prevenção e combate à lavagem de dinheiro, cumpre todas as determinações legais sobre o tema.