Título: Mantega diz que governo prepara medidas para baratear o crédito
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 19/06/2009, Economia, p. 22

"Novos ajustes nas despesas" podem abrir espaço para ações anticíclicas

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Apesar da queda na arrecadação federal de impostos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acenou ontem com novas medidas para estimular a retomada dos investimentos, o que poderia incluir a ampliação de crédito e redução de custos de financiamento. Sem dar detalhes sobre esses estudos, ele disse que, se for preciso, o governo fará "novos ajustes nas despesas" para manter o que chamou de "medidas anticíclicas".

Também sem dar detalhes, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, acrescentou que a negociação envolve os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento e que o setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) deverá ser o principal beneficiado com um eventual corte de custos. Mantega e Coutinho participaram, em São Paulo, de evento organizado pela Agência Estado.

- Não podemos falar de medidas que ainda estão sendo amadurecidas pelo governo, mas que em breve serão anunciadas. Isso poderia influenciar atitudes do mercado e isso não é favorável - disse Mantega, acrescentando que os investimentos ficaram "muito deprimidos" no primeiro trimestre (a taxa de formação bruta de capital fixo caiu a 16,6% do PIB).

Perguntado sobre novos cortes de impostos (como o benefício dado a setores como automotivo e linha branca), o ministro respondeu que "não se fala em redução de impostos antes de praticá-lo". Mantega admitiu que a queda de arrecadação de tributos nos últimos dois meses foi maior do que o previsto pelo governo, mas disse que será compensada com a redução da meta de supéravit primário deste ano (3,8% para 2,5% do PIB).

- Com isso, teremos condições de manter as medidas anticíclicas que já estamos tomando - disse ele. - As contas brasileiras continuam equilibradas e estão entre as mais equilibradas do mundo.

Na sua apresentação, o ministro voltou a dizer que o PIB este ano deve ter crescimento em torno de 1%. Para 2010 e 2011, as previsões são 4% e 5%, respectivamente. Já o presidente do BNDES disse que o setor de bens de capital é "o primeiro a entrar na crise e o último a sair". Mas frisou que novos benefícios valeriam só até que as empresas possam andar sozinhas.

Coutinho crê que a manutenção dos níveis atuais de consumo das famílias vai reduzir a ociosidade da indústria, trazendo de volta os investimentos em capital fixo até a virada do ano. A sua expectativa é que o uso da capacidade instalada volte a atingir 82% (hoje está em 74%), elevando a taxa de investimento para 19% do PIB.

- Os planos de investimento não estão cancelados. Foram adiados pela indústria e cabe ao governo promover o estímulo para seu retorno - afirmou ele.

Confiança do brasileiro melhorou, diz CNI

A confiança do brasileiro melhorou a partir de abril, após ter caído nos dois trimestres anteriores nos quais o país estava em recessão, de acordo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Índice de Expectativa do Consumidor (Inec) medido no segundo trimestre de 2009 superou em 3,7% o registrado nos primeiros três meses do ano. Passou de 106,3 para 110,3 pontos na escala que tem como base de comparação (100) a expectativa média apurada em 2001.

Segundo o gerente de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, a avaliação dos consumidores é de que, superado o auge da crise, o ritmo de demissões deve ser interrompido, e a inflação permanecerá estável. Segundo ele, a perspectiva dos entrevistados em relação ao emprego melhorou 17%, enquanto as respostas sobre o aumento de preços melhoraram 11,2%.

- Antes havia o medo de que o desemprego se alastrasse em todos os setores. Agora não há mais esse sentimento.