Título: Luciano Coutinho: BNDES não é corresponsável por desmatamento
Autor: Novo, Aguinaldo; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 19/06/2009, Economia, p. 25

Banco é sócio de frigoríficos, mas alega que não tem como fiscalizar "in loco"

SÃO PAULO e RIO. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, reagiu à ameaça de inclusão do banco como réu em ação civil pública que o Ministério Público Federal (MPF) do Pará move contra frigoríficos e redes de varejo no estado. A acusação é de que a carne vem de área desmatada. Conforme mostrou reportagem do GLOBO, a inclusão foi pedida pela ONG Amigos da Terra, que encaminhou na terça-feira ofício ao MPF solicitando que o banco respondesse "solidariamente com os frigoríficos" acusados, já que tem participação no capital de vários grupos do setor.

- O BNDES não apoia delinquência em matéria de desmatamento. Não é tolerante com nenhuma conduta irresponsável em matéria ambiental e social - avaliou Coutinho, que considerou a sugestão da ONG sem fundamento. - O banco não financia empresas que deixem de assinar documento de observância de todas as práticas (ambientais).

Ministério Público quer fechar Friboi em Porto Velho

Sem condições de fiscalizar "in loco centenas de contratos", Coutinho admitiu que o banco acaba contando com a ajuda "da sociedade, das ONGs e do próprio MP" para coibir a prática de ações irregulares. Entre os frigoríficos acusados estão Bertin, JBS Friboi e Marfrig, nos quais o banco detém participações de 26,9%, 19% e 14,7% respectivamente.

- Me preocupa saber que o BNDES não teria como fiscalizar, inclusive porque os contratos em questão representam as maiores participações do banco em 2008 - retrucou o presidente da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, comentando que "o banco não pode achar que não é responsável pelos atos das empresas das quais é sócio".

No estado de Rondônia, o cerco aos frigoríficos também apertou esta semana. Ontem, em consequência da Operação Abate, o MPF estadual ingressou com pedido de liminar, em ação cautelar, pedindo a paralisação das atividades do JBS Friboi, entre outros, em Porto Velho. A Operação Abate desbaratou uma rede de corrupção envolvendo funcionários públicos, além de revelar práticas irregulares dos frigoríficos.

O JBS Friboi informou que está "disposto a solicitar ao MPF uma vistoria prévia para comprovar que não há nenhuma irregularidade" na unidade. Os grupos Quatro Marcos, Santa Marina, Margen e Curtume Nossa Senhora da Aparecida também foram alvo da ação.

O MPF pediu ainda que as auditorias nas empresas passem a ser feitas de forma "independente e imparcial", o que requer fiscais de outros estados.

O Bertin informou que, a partir de segunda-feira, vai oferecer aos clientes seu sistema interno de controle de procedência das carnes adquiridas.