Título: PIB: engrenou de novo?
Autor: Novo, Aguinaldo; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 20/06/2009, Economia, p. 29

Mercado e governo estimam alta de 0,5% a 2,8% no 2º tri

Depois de dois trimestres seguidos de queda na atividade econômica, o Brasil voltou a crescer nos últimos dois meses e meio, deixando para trás a recessão. Bancos e economistas já preveem expansão de 0,5% a 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pela economia) entre abril e junho, depois de uma queda acumulada de 4,4% entre outubro e março. No governo, as estimativas preliminares são de que a economia vai fechar este segundo trimestre com expansão de 1,5%. As projeções estão amparadas principalmente na gradual retomada da indústria, setor que tem peso de 28% no cálculo do PIB.

Setores industriais como naval, construção civil, eletrodomésticos e automóveis dão sinais de recuperação. E a equipe econômica agora já acredita ser factível o país alcançar a projeção oficial do governo de expansão de 1% do PIB em 2009.

- Com o resultado do PIB que temos até agora, é possível dizer que um crescimento entre zero e 0,5% já está garantido - garantiu um auxiliar do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

- O desempenho do PIB é muito sensível à indústria. No fim do ano passado, ela foi especialmente ruim e, agora, dá todos os sinais de que vai ser positiva - disse outro importante integrante da equipe econômica.

Outro fator de peso na recuperação da economia é a demanda interna. Com a crise internacional ainda interferindo no comércio exterior, a solução das empresas foi brigar pelo consumidor brasileiro, incentivado também por ações do governo - como reduções de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros e eletrodomésticos.

- A retomada da indústria ainda é muito lenta. Mas diversos indicadores sinalizam que esse processo não deverá ser interrompido - afirmou a economista Luiza Rodrigues, do Santander.

Produção não voltou ao nível pré-crise

Levantamento feito pelo Santander com quatro outros países (Estados Unidos, México, Chile e Argentina) mostra que só o Brasil já está saindo da recessão. A previsão do banco para o PIB brasileiro é de alta de 2,8% na margem. Já as projeções para os EUA, por exemplo, são de nova retração (1,1%) em relação ao primeiro trimestre. No Chile, a estimativa de expansão "próxima de zero" ainda não permite dizer se o país vai se livrar do carimbo da recessão.

Esse quadro, porém, ainda está longe de indicar a reposição dos prejuízos com a crise financeira global. Isso fica claro quando se considera a variação do PIB frente a igual período do ano passado. Pelas estimativas do mercado, em relação ao segundo trimestre de 2008, o PIB brasileiro ainda vai apresentar queda entre -1,6% a -2%.

Também falta muito para que o país recupere o patamar de produção que vigorava até o fim do terceiro trimestre de 2008, antes portanto do auge da crise. Pelas contas da consultoria Tendências, mesmo com crescimento neste segundo trimestre, o PIB brasileiro ainda estaria 2,7% abaixo do patamar de setembro de 2008. Se a estimativa considerar só o PIB da indústria, a diferença ainda será de 9,5%.

- Como a base de comparação com 2008 é muito alta, o PIB só vai voltar a crescer na variação anual a partir do quatro trimestre. Mas é possível dizer que o pior já passou - disse Marcela Prada.

No sua última ata, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicou que já vê recuperação econômica: "As perspectivas para a evolução da atividade econômica mostraram melhora desde a última reunião do Copom, ainda que os dados sobre a indústria sigam em parte refletindo processo de redução de estoques e acomodação da demanda externa".

O consumo das famílias, como um fator positivo neste contexto, vem sendo ressaltado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que vê reaquecimento do comércio. Ainda mais com a confiança dos consumidores melhorando, como mostrou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) esta semana. O indicador cresceu 3,7% neste trimestre, depois de seis meses em queda.

- Os números que têm vindo da indústria e do comércio mostram que temos um desempenho melhor da economia no segundo trimestre. Eles claramente apontam para o desempenho positivo - afirmou Paulo Bernardo esta semana, mantendo a aposta de que o PIB nacional vai crescer 1% em 2009.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, também assumiu uma discurso mais positivo e ressaltou alguns setores que já dão sinais claros de recuperação, mesmo que ainda pequenos. Entre eles, estão o naval, a construção civil e o varejo.

Crise externa e dólar afetam exportação

Mas enquanto os setores voltados para o mercado doméstico retomam o crescimento, a indústria exportadora ainda amarga prejuízos diante da recessão das grandes economias mundiais e da recente valorização do real. As exportações de produtos manufaturados caíram, em média, 30,5% no período de janeiro a maio de 2009.

Algumas medidas têm sido tomadas para aplacar os ânimos das indústrias nacionais. Com as exportações de automóveis caindo pela metade a mercados como os Estados Unidos e a União Europeia, as montadoras foram beneficiadas com a redução do IPI. As siderúrgicas ganharam proteção, via elevação das tarifas aduaneiras. Nos próximos dias, o setor de bens de capital, que vem perdendo vendas na América Latina, receberá mais crédito para as exportações.

Professor da PUC paulista, o economista Antonio Corrêa de Lacerda avalia que a recuperação definitiva da economia brasileira vai depender não só da situação no exterior, mas também do acerto nas decisões de políticas econômicas domésticas. Ele defende novos cortes de juros e maior intervenção no mercado de câmbio. Ao comparar a variação recente do câmbio no país, ele diz que a taxa real (descontada a inflação pelo Índice de Preços no Atacado) já está hoje próximo de R$1,50.

- O pior que pode acontecer neste momento é surgir um clima de acomodação e passividade, apostando que as coisas vão se resolver por si só.

COLABOROU Gustavo Paul