Título: Boia-fria terá marmita, mas não comida
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Fonte: O Globo, 20/06/2009, Economia, p. 31

Acordo com usineiros prevê melhoria em outra áreas, como segurança.

BRASÍLIA. Mesmo avançando em questões problemáticas como as condições de alojamento, transporte e segurança no trabalho dos cortadores de cana, o esforço do governo em mediar um compromisso nacional assinado por usineiros e representantes dos trabalhadores não resolveu aspectos importantes como os salários e a alimentação nos canaviais. Em vez de comida, o acordo que será anunciado na quinta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva prevê a distribuição apenas de marmitas térmicas aos boia-frias.

Apesar de o documento do compromisso - cuja adesão será voluntária - estar pronto, o secretário de Assalariados Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antônio Lucas, diz que deve continuar lutando pela ampliação do acordo. Um piso salarial para o país é difícil, admite, devido às convenções coletivas regionais. Mas a entidade não deve desistir das refeições.

Lucas argumenta que a simples oferta de uma embalagem que mantenha os alimentos aquecidos não garante uma alimentação digna. Além disso, o setor sucroalcooleiro deve continuar sendo alvo de críticas no exterior, o que pode prejudicar exportações.

- Como você explica para um estrangeiro que um setor moderno, com tecnologia de ponta, emprega boia-frias? - questiona Lucas.

Apesar de algumas empresas do setor já garantirem alimentação no serviço, o diretor-executivo da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Leão de Sousa, alega que em um momento de crise os usineiros não teriam como atender à reivindicação. Sousa destacou os pontos positivos do acordo, como a garantia gratuita de transporte e alojamento, além de material de segurança. (Eduardo Rodrigues)