Título: Abrir os arquivos
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Fonte: O Globo, 23/06/2009, Opinião, p. 6

A primeira reação com algum alcance do Senado à avalanche de denúncias que atingem o funcionalismo da Casa, e aumentam a suspeição de alguma conivência de parlamentares com as malfeitorias, foi o anúncio, sexta-feira, feito por José Sarney, de uma auditoria externa na extensa e generosa folha de pagamentos da instituição. Ao mesmo tempo, segundo o presidente do Senado, funcionará a comissão de sindicância criada para investigar denúncias sobre os tais atos secretos da direção geral da Casa, baixados contra o erário e a ética, a julgar pelo conteúdo já divulgado de alguns deles.

A iniciativa da Mesa precisa fazer com que ela retome o controle da situação, pois assim ajudará uma instituição essencial para a democracia. Mas, para isso, a auditoria e a sindicância ¿ esta a ser acompanhada pelo Ministério Público e TCU ¿ não podem cair em descrédito. Têm de apresentar resultados críveis, com os desdobramentos cabíveis.

Não pode a Mesa ou qualquer senador incorrer no erro de reações de autodefesa, como reter informações em nome da preservação de reputações. Caso haja algum fato desabonador sobre alguém é porque este político não deve ser protegido. Quem de fato é dono de boa biografia não precisa de proteção.

Está em andamento uma evidente operação de chantagem e de atemorização engendrada nos porões do funcionalismo da Casa contra alguns senadores. Sarney, um deles.

Constatar o fato não significa deixar de criticar o senador e família por causa de demonstrações explícitas da até agora incurável doença do patrimonialismo, o mal que afeta a capacidade de julgamento dos políticos e lhes provoca a compulsão de usufruir dinheiro e patrimônio públicos como se fossem de sua propriedade.

Está na agenda dos senadores, e não pode ficar muito tempo sem solução, o problema das centenas de atos secretos ¿ seriam mais de 600. Não existe alternativa melhor do que a divulgação de todos. Pelo que já foi revelado, deve haver muito benefício injustificado concedido a senadores com a assinatura do ex-diretorgeral Agaciel Maia. Trazer o conteúdo desses atos à luz do sol é imprescindível para a instituição do próprio Congresso. Sem considerar o efeito adicional de desarmar chantagistas.

Senado não pode retardar a divulgação de todos os atos secretos