Título: A 1ª morte por gripe no Brasil
Autor: Alencastro, Catarina; Souza, Carlos
Fonte: O Globo, 29/06/2009, Rio, p. 8

Ministério da Saúde afirma que nada muda na estratégia do governo de combate à doença

Catarina Alencastro e Carlos Souza

O Ministério da Saúde anunciou ontem a primeira morte por gripe suína no Brasil, a do caminhoneiro gaúcho Vanderlei Vial, de 29 anos, que teve insuficiência respiratória após pegar a doença na Argentina, onde esteve entre os dias 28 de maio e 15 de junho. Vanderlei começou a apresentar sintomas - tosse, febre alta e dores musculares - no dia 15, quando, ainda no país vizinho, iniciou o retorno ao Brasil. Vanderlei chegou no dia 19 e no dia seguinte foi internado. Seu quadro de saúde se agravou três dias depois e ele morreu na manhã de ontem, no Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Oito parentes do caminhoneiro, incluindo sua mulher, estão em isolamento domiciliar, também com a doença confirmada.

O hospital é referência no estado para o tratamento da gripe. O Brasil já tem 627 casos confirmados da doença - 105 a mais do que os registrados na última sexta-feira. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que nada muda na estratégia de combate à doença:

- Mesmo devidamente assistido, com todos os cuidados intensivos que o quadro requeria, infelizmente, ele veio a falecer hoje (ontem). O Ministério lamenta profundamente a morte do paciente e reafirma à sociedade brasileira que está lançando mão de todos os esforços para conter a doença e, principalmente, evitar a ocorrência de óbitos. Esse fato não muda em nada a estratégia do governo brasileiro. Vamos continuar na mesma linha traçada desde o início do plano de contingência.

Temporão voltou a dizer que o aumento no número de casos de gripe suína já era esperado, por conta do maior fluxo de viajantes para países onde há transmissão do vírus e devido à chegada do inverno no Hemisfério Sul. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), Estados Unidos, México, Canadá, Austrália, Chile, Argentina e Reino Unido têm transmissão sustentada da doença. O Brasil ainda não entrou para a lista porque a maioria dos casos é importada (cerca de 65%) ou com forte vinculação epidemiológica com pacientes que trouxeram o vírus de outros países.

O ministro lembrou que a taxa de morte tem caído no mundo, passando de 2% nas primeira semanas para 0,4%. Ele comparou a estatística com a letalidade da gripe comum. Segundo Temporão, a maioria dos casos no Brasil apresenta o quadro leve da doença e tem evoluído para a cura.

- É uma letalidade em queda, em baixa - assegurou Temporão, acrescentando que mesmo assim, por se tratar de um vírus novo, é preciso manter a vigilância constante.

Com os sintomas da gripe, o caminhoneiro, no dia 20, já em sua cidade, Erechim, procurou atendimento no Hospital Santa Terezinha. Em seguida, ele foi transferido para o Hospital São Vicente de Paulo, em estado grave. Segundo os médicos, o paciente apresentava "sofrimento respiratório e precisou de ventilação mecânica". Ficou, então, em coma induzido.

O vice-diretor médico do Hospital São Vicente de Paula, Júlio Stobbe, disse que o caminhoneiro sofreu, no dia 24, uma parada cardíaca, que foi revertida. Ontem, ele sofreu nova parada e, além uso de medicamentos, a equipe médica implantou um marcapasso transitório, mas o quadro se agravou mesmo assim.

O vice-diretor afirmou que a morte ocorreu por causa de uma complicação da pneumonia viral. Portanto, segundo ele, uma exceção entre os casos da gripe:

- O momento não é de pânico, mas sim de informação. As condutas e medidas adotadas pelo hospital continuarão as mesmas, conforme protocolo do Ministério da Saúde.

A mulher do caminhoneiro teve confirmação, por exame laboratorial, de contágio pelo vírus da gripe, mas seu estado de saúde é bom. Ela foi liberada para isolamento domiciliar e será acompanhada pela Secretaria Municipal de Saúde de Erechim. Os outros sete parentes de Vanderlei estão sendo monitorados em casa e não apresentam quadro grave. O secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra, disse que a situação no estado está sob controle.

O fluxo de veículos entre o Brasil e a Argentina é intenso. Motoristas estimam que cerca de 15 mil caminhões circulem mensalmente apenas na ponte entre Uruguaiana e Pasos de Los Libres, um dos principais pontos de ligação entre os dois países.

Até ontem, 112 países com a gripe

O Rio Grande do Sul tem 76 casos confirmados da gripe e 97 estão sob suspeita. Apenas uma paciente, uma jovem, permanece internada em consequência da gripe. No entanto, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, Gerson Penna, afirmou que a paciente está melhorando.

Temporão reforçou as recomendações para quem volta de países mais afetados pela doença. Se apresentar sintomas, o viajante deve procurar o serviço de saúde. Para as demais pessoas, as medidas simples, como lavar bem as mãos e cobrir o rosto ao espirrar ou tossir, são eficazes. Até ontem, 112 países tinham casos confirmados da gripe, num total de 71.320 pacientes e 320 mortes.