Título: Varejo pede prorrogação de IPI reduzido
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 26/06/2009, Economia, p. 21

Segundo empresários, preços de eletrodomésticos caíram e indústria voltou a contratar

Luiza Damé e Aguinaldo Novo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter criticado os empresários por não repassarem aos preços a redução de impostos, representantes do setor varejista se reuniram ontem com ele para mostrar que a desoneração da linha branca chegou à ponta e pedir a prorrogação da medida. Segundo a presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), Luiza Trajano, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de geladeiras, fogões e máquinas de lavar foi repassada aos preços, aquecendo as vendas desses eletrodomésticos, criando empregos na indústria e aumentando a arrecadação.

- A gente veio mostrar que a redução não atrapalhou a arrecadação. Aumentou a venda e nós repassamos o preço para a ponta. Agora cabe ao presidente decidir (sobre a prorrogação) - disse a empresária.

Segundo os empresários, entre novembro de 2008 e abril de 2009 foram demitidos 2.500 funcionários das indústrias de eletrodomésticos da linha branca. Em maio, foram recuperados 387 postos. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse que a prorrogação da medida está sendo analisada "com carinho" no governo, e a decisão será anunciada na próxima semana:

- Só na próxima semana sairá uma decisão sobre a prorrogação do IPI dos automóveis e eventualmente de outras reduções de IPI.

Lula confirmou que, na próxima segunda-feira, terá uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir novas medidas de incentivo à economia brasileira:

- Eu não sei o que tem no pacote que ele vai conversar comigo. Espero que seja o melhor possível para o Brasil.

O foco das medidas, agora, é a indústria de máquinas e equipamentos. Serão reduzidos os juros das linhas do BNDES voltadas à compra e ao leasing de equipamentos industriais, máquinas agrícolas, caminhões, ônibus, entre outros. Prazos de pagamento, hoje de três a cinco anos, devem ser ampliados.

Setor de máquinas diz que incentivos podem reduzir em até 20% custo dos investimentos

A redução do prazo de aproveitamento dos créditos de PIS/Cofins nas exportações de 12 para seis meses é outra medida praticamente acertada. A redução de impostos, como o IOF, nas operações de crédito, e a exclusão dos juros pagos da base de cálculo do Imposto de Renda também estão na mesa.

No caso do IPI, é praticamente certa a prorrogação, por mais três meses, do benefício que reduziu as alíquotas para materiais de construção e para produtos da linha branca, como geladeiras e máquinas de lavar. No caso de automóveis, a contragosto da equipe econômica, a desoneração ainda levará seis meses para ser suspensa integralmente: o aumento da alíquota será gradual.

Proposta apresentada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) pede ao governo incentivos que durem entre seis meses e um ano. Neste período, segundo a entidade, medidas como a redução da TJLP (a taxa atual é de 6,25% ao ano, e o setor pediu corte de até dois pontos), devolução de PIS/Cofins na compra de equipamentos e depreciação acelerada poderiam resultar em economia de até 20% nos custos de novos investimentos. Ainda assim, a estimativa é que as indústrias de máquinas e equipamentos devem fechar 2009 com queda de 20% no faturamento.

- Em média, você leva até seis meses para entregar uma máquina. Este ano já está perdido. Queremos é uma ponte para 2010 - disse ontem o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto.

No acumulado de janeiro a maio, a receita do setor somou R$23,7 bilhões, com queda real de 24,2% na comparação com 2008.

Segundo Aubert Neto, as negociações já duram quase dois meses. Não houve da parte do governo qualquer iniciativa para vincular o anúncio do pacote de benefícios à manutenção do nível de emprego no setor.

- Quem garante emprego é o mercado. E, sem o anúncio de medidas de ajuda, a previsão é de demissão de até 50 mil empregados nos próximos meses - disse o presidente da Abimaq.

Pelos números da entidade, desde outubro de 2008 as demissões já somam quase 17 mil. Em fevereiro passado, a Abimaq chegou a firmar com o sindicato de trabalhadores um acordo de manutenção do nível de emprego, medida condicionada à recuperação de vendas. Mas essa recuperação não aconteceu e o acordo não saiu do papel.