Título: Inadimplência é a maior desde 1994. No cheque especial, calote vai a 10,8%
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 26/06/2009, Economia, p. 22

No caso das empresas, índice alcança 3,2% e é o mais alto em oito anos

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. Consequência direta do encarecimento do crédito após o auge da crise financeira global, a inadimplência foi recorde em maio no Brasil, informou ontem o Banco Central (BC). No caso das pessoas físicas, o calote atingiu 8,6% dos contratos, a mais elevada taxa da série histórica iniciada em julho de 1994. Só no cheque especial, bateu dois dígitos: 10,8%. Para as empresas, a inadimplência chegou a 3,2%, a maior em oito anos. Apesar disso, os bancos continuaram aumentando o volume de crédito concedido e reduzindo os juros cobrados e os spreads (diferença entre o custo de captação e o cobrado do cliente final).

Isso ocorre, segundo o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, porque a inadimplência formal somente ocorre após 90 dias de atraso nos pagamentos. E como as instituições financeiras fecharam as torneiras do crédito até o primeiro trimestre, os juros subiram. As pessoas se viram obrigadas a optar por financiamentos mais caros, como cheque especial. O resultado disso está sendo colhido agora.

No entanto, Lopes se mostrou otimista e previu que, até o fim do ano, a inadimplência deve voltar ao nível pré-crise, de 7,3%, embora ainda possa subir mais antes de começar a ceder.

Em maio, os juros médios cobrados ao consumidor final recuaram de 48,8% para 47,3% ao ano, só perdendo para dezembro de 2007, quando chegaram a 43,9%, o menor nível histórico. E o movimento continuou em junho: até o dia 15, estavam em 46,7% ao ano.

No mês passado, o grande destaque ficou para o CDC de bens duráveis, cujos juros recuaram 4,6 pontos percentuais, para 55,8% ao ano. Na contramão, veio o cheque especial, com juros subindo 1,5 ponto, para 167,8% ao ano. Para empresas, o movimento também é de taxas em queda. Neste mês, até o dia 15, elas estavam em 27,7% ao ano, 0,8 ponto percentual menos do que em maio.

Para o vice-presidente da Anefac (associação que reúne executivos de finanças), Miguel Oliveira, o fato de os juros estarem em queda vai ajudar as pessoas a saírem da inadimplência.

- Os próprios bancos estão acreditando que a inadimplência vai cair de novo. Por isso, estão cortando os juros - disse.

Os spreads também continuaram caindo. Em maio, para pessoas físicas, eles recuaram 1,1 ponto, para 37,4 pontos percentuais. No dia 15 passado, estavam em 36,8 pontos, já voltando ao período pré-crise.

- Os bancos elevaram os spreads lá trás, propositalmente, antevendo um crescimento na inadimplência. Agora, o cenário está mudando - acrescentou Lopes, do BC.