Título: Com pouca geração de vagas em maio, desemprego avança para 8,8%
Autor: Almeida, Cássia; D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 26/06/2009, Economia, p. 23

Taxa em igual mês de 2008 foi de 7,9%. Rendimento tem quarto recuo seguido

Cássia Almeida e Ronaldo D"Ercole

RIO e SÃO PAULO. O mercado de trabalho parou nas regiões metropolitanas em maio. Com a pouca geração de vagas, a taxa de desemprego subiu para 8,8% em maio ante 7,9% do mesmo mês de 2008. Contra abril, a estabilidade imperou, já que a taxa foi de 8,9%, conforme divulgou ontem o IBGE. O universo de dois milhões de desempregados se manteve, mas o rendimento médio real caiu 1,1% frente a abril, no quarto recuo seguido. Segundo Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego, os avanços que ocorreram no ano passado na qualidade do emprego ficaram para trás. Ele se referia à expansão do emprego com carteira, que caiu de 8,6% de janeiro a maio de 2008 para 2,9% este ano:

- O mercado continua sentindo os efeitos da crise, sem geração de vagas, o que reflete diretamente no aumento dos desempregados (frente a maio de 2008, foram mais 234 mil à procura de uma vaga).

Para o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, o pior da crise no mercado de trabalho já passou. Para ele, o desemprego não deve subir mais este ano e pode chegar a uma taxa abaixo de 8% em dezembro, mês em que o índice, tradicionalmente, recua:

- As taxas ficarão acima de 2008, mas não chegarão a dois dígitos. O pior já passou.

O único senão na análise do economista da UFRJ é a queda do rendimento, o que indicaria que o emprego está sendo trocado pela redução no salário real.

- Apesar disso, a massa de rendimentos ainda continua superior à do ano passado, alimentando o consumo e a economia em geral.

Corte salarial está ocorrendo no topo da pirâmide

Essa certeza não está clara para o economista da Opus Gestão de Recursos José Márcio Camargo. Ele cita a queda de 0,5% no rendimento nominal, sem descontar o efeito da inflação, situação que não se via desde 2003, quando a taxa de desemprego estava em 13%. Camargo diz que isso preocupa, já que o consumo das famílias vem segurando o desempenho da economia. E a queda no rendimento, se não for interrompida, pode abalar uma das principais sustentações da economia. A massa de rendimentos (soma de todos os salários) caiu 0,5% contra abril e aumentou 2,9% ante maio de 2008.

Mas os resultados da pesquisa tornaram "menos provável" que o desemprego alcance dois dígitos, na avaliação de Camargo:

- Ficou menos provável, inclusive porque em julho o desemprego começa a cair.

Para o economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a estabilidade no mercado em maio trouxe um "sinal ligeiramente alentador", diante da crise que aflige o mundo. Até mesmo a expansão cada vez menor de vagas frente aos meses do ano passado ficou para trás. A alta da ocupação de 0,2% frente a maio de 2008 foi a mesma de abril.

- Considerando que maio foi um dos melhores meses de 2008, com muita geração de vagas. Em junho, foi ainda melhor e vamos ver como o mercado vai se comportar.

Em junho do ano passado foram criadas 232 mil vagas frente a maio de 2008. Um número difícil de se superar, principalmente em momentos de crise.

Azeredo, do IBGE, mostrou que as perdas salariais estão acontecendo no topo da pirâmide de rendimentos. Com respeito ao rendimento mediano, aquele que representa exatamente o meio da distribuição, houve alta de 3,7%, ficando em R$782 em maio.

Marlete dos Santos, de 27 anos, está desempregada desde abril, quando foi demitida do Hospital Sino Brasileiro, em São Paulo, onde trabalhou por mais de cinco anos como auxiliar de enfermagem. Desde então, tem distribuído o currículo por hospitais da cidade, sem sucesso. Marlete formou-se em enfermagem no fim do ano passado e tenta recolocar-se no mercado como profissional da área, não mais como auxiliar.

- Está difícil, porque eles pedem experiência - disse ela, que ontem preenchia um cadastro no Centro de Amparo ao Trabalhador, serviço de recolocação profissional mantido pela Força Sindical.

Em fevereiro deste ano, Odair Pinto de Freitas, de 35 anos, foi demitido da função de porteiro quando a administradora de condomínios que o empregava não renovou o contrato com o edifício onde ele trabalhava. Freitas, que está morando com uma irmã, vem fazendo bicos para se manter. Mas, ontem, ele estava animado, pois tinha conseguido marcar uma entrevista.