Título: Simon pede que Sarney deixe o cargo antes que seja obrigado
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 26/06/2009, O País, p. 3

PSOL anuncia que fará representação por quebra de decoro

Isabel Braga e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Diante de novas denúncias que envolvem José Sarney (PMDB-AP), o senador Pedro Simon (PMDB-AP) foi ontem à tribuna pedir a renúncia do presidente do Senado. Também ontem, o PSOL anunciou que apresentará, na próxima semana, representação por quebra de decoro parlamentar contra Sarney, o que abre a possibilidade, pelas novas regras, de ele ser afastado do cargo enquanto a investigação estiver em curso, caso seja aceita pelo Conselho de Ética - órgão que, porém, está acéfalo porque não teve seus 15 integrantes titulares e 15 suplentes eleitos.

No plenário, onde Sarney não apareceu ontem, Simon considerou que o próprio presidente da Casa já teria começado a abrir mão de suas atribuições ao delegar ao 1º secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), o poder de nomear o novo diretor-geral, Haroldo Tajra.

- Não gostaria de dizer o que vou dizer, mas o presidente do Senado precisa se afastar do cargo. Para o bem dele, de sua família, de sua história e deste Senado. Melhor sair, antes que seja obrigado. Melhor deixar agora a presidência, antes que sua situação fique totalmente insustentável - recomendou Simon, diante uma plenário esvaziado.

Cristovam Buarque (PDT-DF) e Eduardo Suplicy (PT-SP) apoiaram a proposta. O petista ainda lançou o gaúcho para o cargo:

- Se eu estivesse no lugar do presidente Sarney, seguiria a sua recomendação. E o PMDB poderia eleger um novo presidente. O senhor (Simon) mesmo seria um nome consensual .

Embora Sarney não estivesse presente, pelo menos três parlamentares saíram em sua defesa.

- Esta Mesa foi eleita. Licença ou renúncia é um ato voluntário. A mim, me passa a percepção de que há um movimento golpista na Casa - disparou Geraldo Mesquita (PMDB-AC).

Em nota, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que estava no Amazonas, propôs que Sarney se afaste da condução dos processos de sindicância abertos na Casa para investigar uma série de denúncias.

- A crise já está beirando uma crise institucional. O presidente Sarney não pode ficar se explicando todo dia. Ele está a cada dia menor - disse o tucano, por telefone.

Para eventual processo contra Sarney por quebra de decoro é preciso ainda que o Conselho de Ética eleja e dê posse aos seus novos integrantes, o que deveria ter ocorrido entre fevereiro e março, mas, devido à onda de escândalos, caiu no esquecimento. O Bloco da Maioria, formado por PMDB e PP, e o PSDB ainda não indicaram representantes. Um projeto de resolução de 2008 prevê que o relator seja sorteado, mas não poderá ser do partido do representante (PSOL) nem do representado (PMDB). O relator terá até cinco dias para dizer se a denúncia é procedente ou não e poderá propor o afastamento preventivo de Sarney no cargo.

A presidente do PSOL, Heloísa Helena, avisou que o partido também representará contra outros dois ex-presidentes do Senado: Garibaldi Alves Filho (RN) e Renan Calheiros (AL), seu adversário no estado:

- Para a sociedade, o que interessa é o que fazer com os senadores vigaristas e os servidores de suas respectivas quadrilhas.