Título: Apesar da crise, trabalhadores obtêm reajuste salarial acima da inflação
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 27/06/2009, Economia, p. 26

Segundo Dieese, 96% dos acordos superam INPC. Ajuste foi via demissões

Aguinaldo Novo

SÃO PAULO. Estudo divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a crise financeira não afetou o resultado das negociações salariais assinadas entre janeiro e maio deste ano. De uma amostra com cem acordos, 96% fecharam com reajuste igual ou superior à inflação (medida pelo INPC), contra 89% nos cinco primeiros meses de 2008.

Mesmo na indústria, o setor mais afetado pela desaceleração econômica desde o fim do ano passado, empresas e empregados chegaram a um bom termo: 94,4% das negociações terminaram com a garantia mínima de reposição integral da inflação, mesmo percentual verificado em 2008. Neste caso, os dados do Dieese mostram que a queda no percentual dos acordos com ganho real (de 86,1% para 83,3%) foi compensado pelo total de contratos que igualaram pelo menos a alta da inflação (8,3% para 11,1%).

Setor eletroeletrônico diminui demissões

Na avaliação do coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, a resposta dos empresários à crise ocorreu principalmente pela via das demissões, e não pelos índices de reajuste.

- Quem se manteve empregado, teve direito a um índice melhor - disse ele.

Oliveira acrescentou que os baixos índices de inflação acumulados no período também facilitaram as negociações. Para permitir a comparação, o Dieese considerou o mesmo universo de empresas em 2008 e 2009. Os dados fazem referência apenas ao reajuste do salário-base, deixando de fora outros itens que podem integrar a remuneração do trabalhador - como abono salarial ou participação nos lucros.

Essa tendência registrada até maio pode ser repetir no segundo semestre deste ano, período que concentra as data-bases das categorias profissionais mais organizadas, como petroleiros, bancários e metalúrgicos. Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, a recuperação da economia prevista para os próximos meses vai permitir a negociação de mais benefícios. Além disso, ele chama a atenção para os resultados dos setores beneficiados com redução de impostos.

- No setor automotivo e de linha branca, as vendas registraram forte crescimento. Os empresários não vão poder dizer que estão perdendo dinheiro - afirmou o sindicalista.

Numa indicação de melhora das expectativas para os próximos meses, as indústrias do setor eletroeletrônico reduziram o ritmo de demissões em maio. Dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) mostra que o setor encerrou maio com 154.980 empregados, 80 a menos do que no mês anterior. Antes, em seis meses de crise, foram eliminados cerca de nove mil postos de trabalho.

- O setor praticamente zerou o processo de demissões, como reflexo da expectativa de melhora das atividades no segundo semestre - disse o presidente da entidade, Humberto Barbato.