Título: BC reduz previsão do PIB para 0,8%
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 27/06/2009, Economia, p. 27

Gastos com servidor vão crescer e puxar massa salarial, aponta relatório

Patrícia Duarte

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Brasil deve crescer 0,8% em 2009, segundo projeção do Banco Central (BC) no seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem. O número está abaixo do 1,2% estimados em março, mas ainda está acima da retração de 0,57% esperada pelo mercado financeiro e mais de acordo com a previsão de crescimento de 1% do governo para o ano.

- Normalmente, não seria estranho, no caso brasileiro, se imediatamente na saída de um processo de contração você tivesse dois trimestres de crescimento um pouco mais fortes antes de entrar numa trajetória mais estável de expansão - afirmou o diretor de Política Monetária do BC, Mário Mesquita, acrescentando que o piso da atividade econômica, provavelmente, ocorreu na virada do ano.

O BC também calcula que a massa salarial crescerá 3,5% este ano, sobretudo puxada pelo setor público. O número já traz embutidos os reajustes dos servidores públicos programados. Quando se leva em conta apenas o setor privado, a autoridade monetária calcula que a massa salarial crescerá apenas 2,5% neste ano.

Gasto público é "normal" em tempos de crise

A força motriz, neste momento, tem sido o consumo do governo. Tanto é que o BC aumentou de 2,4% para 2,8% a projeção de crescimento para este ano, sustentando a expansão da atividade. Para Mesquita, essa ampliação dos gastos públicos "é normal" em momentos de crise e não preocupa.

O diretor também chamou a atenção para a performance do setor de serviços, que tem surpreendido positivamente e também vai ter uma importante contribuição na recuperação. Em 2009, o BC espera expansão de 2,1%, contra 1,7% em março.

O destaque negativo nas contas do BC ficou para a Formação Bruta de Capital Fixo (indicador de investimentos), cuja estimativa passou de um crescimento de 4,4% para uma retração de 5,1% em 2009. Isso por causa da crise internacional e da falta de crédito que ainda afeta as empresas. Para o setor industrial em geral, o BC também piorou suas estimativas: antes esperava leve expansão de 0,1% e, agora, projeta queda de 2,2%.

No campo do desemprego, a autoridade monetária argumentou que o pior ainda está por vir: o pico de desocupação no Brasil será agora em julho, com 9,8% da população economicamente ativa. Mas, a partir daí, a situação começará a melhorar, até chegar a 7,6% em dezembro, resultando em média de 8,8% em 2009. O número é inferior ao patamar de 2007 (9,3%), ao qual o presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmou que a taxa voltaria este ano.

- Esse pico (desemprego) virá pela maior busca por emprego - explicou Mesquita, referindo-se a um processo comum quando o ambiente econômico melhora, o que anima quem esperava uma chance a voltar a procurar uma vaga.

O relatório de inflação também trouxe a nova projeção da relação entre a dívida pública e o PIB, já excluindo a Petrobras da conta: 42%. Até então, esperava-se 39,5%.

As estimativas de inflação para 2009 e 2010 do BC mudaram muito pouco, e continuam abaixo do centro da meta do governo para os períodos, de 4,5% pelo IPCA. No cenário de referência (Selic constante a 9,25% ao ano e dólar a R$1,95), o indicador fechará o ano a 4,1%, 0,1 ponto a mais do que a projeção anterior. Para 2010, o número recuou de 4% para 3,9%.

Mantega critica medida adotada por estados

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a cobrança antecipada de impostos (chamada substituição tributária) por alguns estados está comprometendo os efeitos da desoneração do IPI adotada pelo governo federal para recuperar as vendas de alguns setores. Mantega participou de um almoço com empresários do varejo, onde soube que o governo de São Paulo teria incluído os produtos das linhas branca (fogões, lavadoras e geladeiras), que tiveram as alíquotas do IPI reduzidas em abril, no regime de substituição tributária no início deste mês.

- Isso diminui a sonegação, é verdade. Só que fazer isto neste momento, exatamente nos produtos que nós desoneramos, é uma contramedida, porque está aumentando a carga tributária dos produtores - disse Mantega.

A Secretaria de Fazenda paulista confirmou que a cadeia da linha branca foi incluída no regime de substituição este mês, mas não respondeu as afirmações do ministro.