Título: Param as buscas a vítimas do acidente aéreo
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 27/06/2009, Rio, p. 24

Forças Armadas dizem ser impossível, após 26 dias, avistar no mar mais corpos ou sobreviventes do voo 447

Letícia Lins

RECIFE. Ontem, 26 dias após o acidente com o vôo 447 da Air France, os comandos da Marinha e da Aeronáutica anunciaram o fim da operação de busca e resgate das vítimas do Airbus, que caiu no mar, na noite de 31 de maio, com 228 pessoas a bordo. Foram resgatados 51 corpos. Os militares alegaram razão técnica para o fim dos trabalhos: " a impraticabilidade de se avistarem sobreviventes ou corpos", passado quase um mês do acidente. Segundo o assessor de comunicação da Aeronáutica, tenente-coronel Henry Munhoz, todas as famílias das vítimas foram previamente avisadas do término dos trabalhos:

- É praticamente impossível sobreviver no mar por 26 dias. Toda a área possível de serem localizados sobreviventes e corpos foi coberta por nossas aeronaves. Percorremos 350 mil quilômetros quadrados, mas a possibilidade de encontrá-los foi se dissipando. Tecnicamente, não há mais possibilidade de acharmos vítimas ou despojos.

Ao ser indagado se outros países, como a França, concordaram com a desmobilização, ele afirmou que essa decisão cabe apenas ao Brasil:

- Essa operação foi de responsabilidade do estado brasileiro, tendo sido executada pela FAB (Força Aérea Brasileira) e pela Marinha. Cabe ao estado, que detém essa responsabilidade, determinar o tempo adequado de realizar buscas e definir o seu término.

Forças Armadas mobilizaram 1.600 pessoas

Mais de 600 peças ou componentes do avião foram recolhidos por aquela que é considerada a maior operação das Forças Armadas em águas brasileiras, mobilizando mais de 1.600 profissionais, além de 11 navios e 12 aviões da FAB.

O capitão de fragata Gilcemar Tabosa, do Centro de Comunicação da Marinha, disse que os navios que ainda permanecem no local de buscas estão retornando para Recife e Natal, onde deverão deixar, dentro de três dias, os últimos pedaços encontrados da aeronave ao BEA, que é o escritório de investigação de acidentes da aviação civil francesa. Encerrada a participação brasileira, cabe à Marinha francesa localizar a caixa-preta do avião e ao BEA explicar as causas do desastre.

Os militares informaram que, além dos doze aviões brasileiros, a FAB contou com o apoio de aeronaves da França, dos Estados Unidos e da Espanha nas buscas. A Aeronáutica acrescentou que o avião R-99 realizou busca eletrônica em dois milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a oito vezes a dimensão do Estado de São Paulo. O R-99 indicava para outras aeronaves as áreas onde haviam corpos ou destroços e elas trabalhavam na busca visual, orientando os navios a fazerem o recolhimento do material encontrado. Os militares brasileiros não souberam informar o custo da operação, se limitando a dizer que essa não era a preocupação das Forças Armadas, que se dedicaram apenas a resgatar sobreviventes ou corpos.

Informaram ainda que toda a operação de busca foi de responsabilidade direta do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), via Salvaero Recife, em coordenação com o Salvamar Nordeste. Todos os trabalhos foram desenvolvidos dentro do previsto na Convenção de Chicago, que dá aos países signatários a responsabilidade de busca e salvamento em suas áreas de jurisdição.