Título: Empresas podem voltar a investir, dizem analistas
Autor: Duarte, Patrícia; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 30/06/2009, Economia, p. 18

Consumo nacional de equipamentos ficou 21% menor em abril

Cássia Almeida

Agir no setor que mais puxou para baixo a economia brasileira no último semestre, o de máquinas e equipamentos, foi um caminho acertado, na opinião de economistas, ao comentarem o pacote anunciado ontem pelo governo. Responsável por aumentar a capacidade produtiva do país, o investimento caiu 14% no primeiro trimestre, a maior queda desde 1996. Com o barateamento de custos e crédito facilitado, projetos de investimento que estavam em vias de acontecer e foram suspensos por causa da crise podem ressurgir, dizem analistas.

Ricardo Carneiro, da Unicamp, lembra que metade do investimento está garantido com os planos da Petrobras no pré-sal e o programa de habitação popular.

- A outra metade, privada, será influenciada pela sustentação da demanda, com as desonerações, e a redução do custo e do financiamento das máquinas e equipamentos. Fecha um elo da política anticíclica.

Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que o consumo aparente de máquinas e equipamentos (produção nacional mais importação, descontadas as exportações) continuou negativo no segundo trimestre. A queda em abril foi de 21% frente ao mesmo mês de 2008. Para ele, o efeito se dará no médio prazo:

- Há capacidade ociosa na indústria e esse indicador anda com o investimento. Mas houve melhoria nas expectativas e isso pode ajudar a manter as vendas de carros e eletrodomésticos e o investimento.

Para economista da Unicamp, câmbio afeta exportações

Os planos que foram engavetados pela crise podem sair do papel nesse momento, diz o professor da UFRJ David Kupfer.

- São projetos que estavam na fronteira. É um empurrão na decisão de investimento. A medida, porém, deveria ser estrutural, desonerando o setor de forma permanente.

Para Carneiro, da Unicamp, faltou ao governo adotar uma medida: agir para conter a desvalorização do dólar. O patamar ideal seria de R$2,20, segundo ele, o que manteria competitivas as exportações de manufaturados:

- O Brasil está perdendo mercado na América do Sul e nos EUA para a China.

Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan, considera positivas as medidas, mas critica a falta de investimento público, o ideal para estimular a economia em épocas de crise.