Título: Virgílio se defende, ataca Sarney e diz que há um bando de corruptos
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 30/06/2009, O País, p. 4

O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: "Agaciel roubou com gente de mandato"

Senador admite que manteve funcionário fantasma e que recebeu ajuda de Agaciel

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), partiu ontem para o ataque ao se defender de acusações, publicadas pela revista "IstoÉ", de que manteve um funcionário fantasma e que teve despesas no exterior pagas pelo ex-diretor geral do Senado Agaciel Maia. Virgílio apresentou denúncia solicitando que o Conselho de Ética - que ainda não foi instalado - investigue 19 acusações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). E atacou colegas, sem citar nomes, dizendo que há na Casa "um bando de senadores covardes e corruptos" cúmplices de Agaciel.

Hoje Sarney será alvo de representação por quebra de decoro, que será protocolada pelo PSOL, e o DEM poderá engrossar a lista dos pedem sua licença. Para Virgílio, Sarney perdeu as condições de presidir a Casa. Ele sugeriu que Sarney e dois de seus aliados, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Gim Argello (PTB-DF), teriam estimulado Agaciel, a quem tratou por ladrão, a divulgar denúncias contra ele.

- Seria uma tática que visaria a calar não um dos que estavam falando, mas o primeiro que falou (...) aquele que não silenciará até que esta Mesa substitua o presidente Sarney, que não tem mais a mínima condição moral de permanecer à frente da direção desta Casa - disparou Virgílio. - Esse homem (Agaciel) é corrupto (...), assim como não presta todo o mundo que se envolveu com ele. Não acredito que tenha roubado sozinho. Roubou com gente de mandato. Roubou com gente influente da República.

Wellington Salgado (PMDB-MG) foi o único a defender Sarney, ausente da sessão.

"Esse é um equívoco do qual me penitencio"

Numa fala de mais de três horas, Virgílio admitiu que errou ao manter no gabinete o filho de um amigo e seu subchefe de gabinete, Carlos Homero Nina, mesmo quando ele optou por fazer mestrado e pós-graduação no exterior. Carlos Alberto Nina Neto foi contratado em 21 de maio de 2003 como assistente técnico com salário de cerca de R$10 mil. Em 2005, entre maio e julho, foi para Barcelona para um mestrado e continuou recebendo salário. Depois, passou mais de um ano fora, entre outubro e novembro de 2007, fazendo pós-graduação. Só foi exonerado em 22 de outubro de 2008.

- Esse é um equívoco do qual me penitencio - disse.

Virgílio admitiu que recebeu ajuda financeira de Agaciel em viagem à França, após seus cartões de crédito terem sido rejeitados. Ele disse que não pediu nada a Agaciel, mas ao seu subchefe de gabinete, que teria ressarcido o ex-diretor com a ajuda de dois amigos: o arquiteto Antônio Augusto Rebelo e o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Fernando Neves da Silva.

Sobre as despesas médicas de sua mãe, Virgílio disse que ela não era sua dependente, mas de seu pai, o ex-senador Arthur Virgilio Filho. E anunciou que pediria informações à Mesa para saber se houve autorização para gastos acima do limite:

- Esse homem (Agaciel), até quando me acusa, não consegue fugir de dizer que praticou uma ilegalidade. Se liberou tratamento que não deveria ter liberado, ressarcimento que não deveria, da minha mãe, praticou uma ilegalidade; ou seja, quer me transformar em seu cúmplice ou transformar meu pai, falecido, em seu cúmplice. Ele é cúmplice do Zoghbi. Ele é cúmplice de um bando de senadores covardes, que não estão tendo coragem de apresentar a sua face.