Título: Juros altos por muito tempo garantem 1º lugar no ranking de investimentos
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 28/06/2009, Economia, p. 28

Aplicações atreladas à taxa básica acumulam rentabilidade até 2.281% em 15 anos

Mariana Schreiber

Os investimentos atrelados à taxa básica de juros (Selic) foram os que acumularam a maior rentabilidade nos 15 anos de Plano Real. Na média, aplicações em CDBs, títulos públicos, fundos DI e de renda fixa se valorizaram mais de 2.000% de 1ode julho de 1994 até maio de 2009. O mais rentável foi o CDB prefixado para resgate em 30 dias, com 2.281,17%. Já o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), subiu 1.368% no período, enquanto a poupança acumulou rendimento de 554%. Todos esses investimentos apresentaram ganhos acima da inflação medida pelo IGP-M, que variou 512% nesta década e meia. Já o investimento em dólar, moeda que se valorizou 97,29% nos últimos 15 anos, não garantiu ganho real.

Economistas explicam que, com a estabilização dos preços, o juro real (valor nominal da Selic descontada a inflação) disparou no Brasil a partir de 1994, permitindo ganhos elevados aos investimentos atrelados à Selic.

¿ Apesar do controle da inflação, os juros nominais permaneceram altos por muito tempo no Brasil depois de 1994.

Assim, houve alta da taxa real.

Antes do Plano Real, os juros nominais eram ainda mais altos, mas a inflação elevada corroia os ganhos ¿ explica o economista do Ibmec-RJ Gilberto Braga.

Ele lembra que, antes da estabilização dos preços, era difícil obter ganhos reais. Os investimentos serviam essencialmente para evitar ou diminuir as perdas com a inflação.

¿ As pessoas tinham a sensação de que ganhavam dinheiro, mas efetivamente não ganhavam.

E era difícil prever qual seria o rendimento porque não era possível estimar com segurança a inflação futura ou a taxa de juros do dia seguinte ¿ diz o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani.

Cartão de crédito era arma contra a inflação A aplicação mais comum no período de inflação alta era o overnight. Investidores das classes média e alta depositavam seus recursos na conta corrente remunerada e os bancos compravam títulos públicos com vencimento de apenas um dia, com taxas fixadas diariamente.

Braga lembra que quem podia deixar seu dinheiro parado por um pouco mais de tempo aplicava por um prazo fechado no open market e conseguia rendimentos melhores.

O cartão de crédito também era uma arma contra a inflação.

¿ Antes da estabilização, o brasileiro de classe média abarrotava o carrinho de supermercado no início do mês e pagava as compras no cartão de crédito.

Ele então aplicava o dinheiro para só quitar a conta no mês seguinte ¿ conta Braga.

Padovani destaca que, com a estabilização da economia, houve a diversificação dos investimentos e o alongamento dos prazos das aplicações. Hoje, as pessoas conseguem se organizar melhor, têm também mais clareza do rendimento que podem obter e, com isso, se arriscam mais em investimentos voláteis e de longo prazo.

¿ Atualmente, há título público com vencimento de até 40 anos, algo impensável antes do plano ¿ afirma Padovani.

O presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), Sergio Cutolo, que foi ministro da Previdência entre o fim de 1993 e o início de 1995, acredita que a tendência agora é que aumentem os investimentos em títulos privados, como ações e debêntures (papéis de dívidas de empresas). Ele acredita que, com a queda da Selic, os investimentos em renda fixa não serão os mais rentáveis.

Para o diretor-executivo de Fomento e Desenvolvimento de Mercados da BM&F Bovespa, Paulo Oliveira, as ações tendem a se tornar mais atraentes, com ganhos a longo prazo ¿ mesmo com a crise que derrubou o mercado no fim de 2008. Mas ele frisa que a estabilização da economia já provocou grande aumento do investimento em Bolsa.

Sem memória de crises, mais jovens se arriscam na Bolsa Segundo Oliveira, a participação de pessoas físicas na Bovespa cresceu de menos de 10% em 1994 para um terço do total de investidores hoje: ¿ Hoje a Bovespa movimenta cerca de R$ 120 bilhões por mês, o dobro do que foi negociado em todo o ano de 1994.

Gilberto Braga chama atenção ainda para a grande participação dos mais jovens na Bolsa, por não terem a memória dos tempos de instabilidade econômica e crises inflacionárias.