Título: Ex-diretor ainda dá as cartas no Senado
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 28/06/2009, O País, p. 3

Mesmo afastado, Agaciel tem aliados em postos-chaves da Casa

Regina Alvarez BRASÍLIA

Na semana passada, o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia aparentemente jogou a toalha. Desgastado pela sucessão de escândalos envolvendo o seu nome e ameaçado de demissão, pediu licença de 90 dias para preparar sua defesa. No entanto, sua influência política na Casa que dirigiu por 14 anos não se esgotou nesse episódio.

Mesmo afastado, ele mantém pessoas de sua confiança alojadas nas principais áreas administrativas do Senado e na maioria dos gabinetes dos senadores. Essa rede de relacionamentos, montada cuidadosamente durante anos, permanece em setores importantes da Casa. O ex-diretor tem aliados em postos estratégicos de pelo menos 20 secretarias e subsecretarias.

Agaciel expandiu sua influência também pelos gabinetes dos senadores. Em 2003, o senador José Sarney (PMDB-AP), em sua segunda gestão na presidência do Senado, deu poderes a Agaciel para nomear os chefes de gabinetes, e ele exerceu com desenvoltura essa atribuição. Pelos cálculos de funcionários que conhecem bem a estrutura do Senado, restariam 62 chefes de gabinetes, do total de 81, indicados pelo ex-diretor.

Enquanto estava no cargo, Agaciel se reunia periodicamente com um grupo que definia como sua equipe ¿ incluindo chefes de gabinete indicados por ele ¿ para se manter informado sobre o que acontecia nos escritórios dos senadores.

A Secretaria Especial de Editoração e Publicações, a famosa Gráfica do Senado, continua um reduto do ex-diretor. Dirigida por Julio Pedrosa, abriga antigos e muito próximos colaboradores do ex-diretor, além da própria mulher de Agaciel, Sânzia Maia. É na gráfica que está alojado, por exemplo, Luiz Augusto da Paz Junior, conhecido pelos senadores como um dos ¿agaciboys¿, homens de confiança de Agaciel que, durante a sua gestão, ocuparam postos de chefia estratégicos.

Paz Junior é hoje diretor da Subsecretaria de Administração de Suprimentos, Matérias-Primas e Desenvolvimento Tecnológico ¿ uma das divisões da Gráfica ¿ e abriga sob o seu comando a mulher de Agaciel e outro escudeiro do ex-diretor: Aloysio de Brito Vieira.

Controle sobre verba indenizatória

Por meio de um ato secreto, Agaciel nomeou Vieira, em março de 2008, para fazer parte da comissão permanente encarregada de sistematizar as informações e documentos referentes às verbas indenizatórias dos senadores. Ele era diretor de Fiscalização e Controle do Senado, na época.

Em abril, o Ministério Público do Distrito Federal propôs à Justiça uma ação de improbidade administrativa contra Vieira e outros dois servidores do Senado, acusados de integrar uma quadrilha especializada em fraudar licitações e contratos de órgãos públicos, desbaratada em julho de 2006 na Operação Mão de Obra.

A ação e uma representação criminal na Justiça Federal estão em andamento. Vieira era secretário de Compras do Senado, quando ocorreram esses fatos. Deixou o cargo de diretor de Fiscalização e controle só em outubro passado.

Na Secretaria Especial de Informática, conhecida como Prodasen, estão alojados em postos importantes pelo menos dois homens de confiança de Agaciel. João Roberto Pereira de Baere Júnior ocupa o cargo de diretor de Consultoria, e Carlos Alberto Belesa Sousa é secretário de Controle e Execução; também é gestor de um dos contratos com empresas terceirizadas, alvo de recente auditoria do Senado, que encontrou diversas irregularidades. A própria mulher de Belesa, Gilvânia, e uma sobrinha de Agaciel foram contratadas por meio dessas empresas. Ex-vigilante, Belesa viu sua carreira decolar na gestão de Agaciel.

Os escândalos em série causaram reação da oposição, que, desde o início do ano, aponta Agaciel como o principal responsável pela caixa preta que é hoje o Senado. O senador Sergio Guerra (PE), presidente do PSDB, propõe que os ocupantes de cargos de chefia ponham seus cargos à disposição, para permitir uma reestruturação efetiva e o fim da influência de Agaciel.

¿ Todas as pessoas podem ser competentes e válidas, mas devem ser submetidas a uma avaliação neste momento. A atual estrutura não tem sentido técnico ¿ afirma Guerra.

Já o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), avalia que o poder de Agaciel está se acabando: ¿ Com tudo que aconteceu, não acredito (que mantenha influência). Ninguém quer se mostrar como amigo. Os amigos ou estão desalojados ou estão encolhidos pela vigilância que está em curso ¿ disse.

Mas até na Diretoria Geral, antigo QG de Agaciel, ainda permanece alojado um dos seus mais fiéis escudeiros: Valdeque Vaz de Souza ocupa um cargo no gabinete e ganhou notoriedade recentemente com a descoberta de que a sua filha Lia havia sido lotada no gabinete de Demóstenes Torres (DEM-GO), por meio de um ato secreto, sem o conhecimento do senador. A revelação trouxe à tona um dos métodos adotados na gestão de Agaciel para nomear parentes, apadrinhados e fantasmas: a ocupação de vagas ¿esquecidas¿ na cota de cada senador.

A ex-mulher de Valdeque, Nileide Helena Vaz de Souza, também é funcionária do Senado.

Está lotada na Secretaria de Informação e Documentação, como assistente do diretor.

Suspeito de fraudar licitações e acusado pelo Ministério Público de improbidade administrativa na Operação Mão de Obra, Dimitrios Hadjinicolaou, ex-diretor da Secretaria de Administração de Compras e Contratações de Serviços Públicos do Senado, integra o grupo de servidores que se manteve muito próximo do então diretorgeral.

Isso causou até um problema familiar. Dimitrios era genro da poderosa secretária-geral do Senado, Cláudia Lira, adversária de Agaciel na disputa interna do Senado.

Hoje, Dimitrios é chefe de gabinete administrativo da Secretaria de Estágios, para onde foi nomeado por ato secreto, em outubro de 2008, dois dias após ter sido exonerado do cargo de diretor da Secretaria de Obras. Recebe um extra de R$ 3,3 mil por essa função comissionada.

Para o novo diretor-geral, Haroldo Tajra, o fato de antigos aliados de Agaciel ainda ocuparem cargos de chefia não necessariamente desabona essas pessoas: ¿ Muitas se vincularam profissionalmente ao ex-diretor e isso não é desabonador. O meu critério será da competência administrativa.