Título: Senado corta 50 diretores
Autor: Colon, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2009, Política, p. 4

Direção-geral da Casa tira postos de servidores, mas não extingue os cargos. Funcionários atingidos ameaçam fazer barulho nos próximos dias.

Heráclito promete novas medidas para conter a crise no senado Cabeças rolaram ontem no Senado. Cinquenta servidores perderam o status de diretor e uma gratificação que varia de R$ 2 mil a R$ 2,2 mil. Internamente, o clima piorou na Casa. Os funcionários atingidos pela medida foram avisados à tarde da decisão e alguns mandaram um recado de que não aceitarão pagar sozinhos pela crise administrativa instalada na Casa. A calmaria de uma sexta-feira virou confusão nos meandros do Senado. A novela promete novos capítulos nos próximos dias.

A escolha dos degolados foi feita pelo diretor-geral, José Alexandre Gazineo, e assessores, numa reunião ontem pela manhã. A lista foi então apresentada ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes ((DEM-PI), que a divulgou aos jornalistas. Segundo Gazineo, perdeu o cargo quem ocupava função com ¿menor conteúdo de competência¿. ¿Para não comprometer serviços essenciais¿, afirmou.

O argumento irritou parte dos servidores. Principalmente porque os nomes foram apresentados em destaque, citando as pastas, em forma de código, em segundo plano. Gazineo era o braço direito do ex-diretor-geral Agaciel Maia, que comandou esse crescimento administrativo nos últimos anos. Ex-diretor-adjunto, Gazineo fez parte do grupo que ajudou a elevar a burocracia da Casa a 181 diretorias. Continua cercado pelos aliados de Agaciel na Diretoria Geral.

A faca atingiu diretores de áreas com nomes exóticos, que chamaram a atenção dos próprios senadores, de órgãos em que os chefes comandavam a si mesmos, entre outras. A degola pegou, por exemplo, os diretores das subsecretarias de Elaboração de Autógrafos e Redação Oficial e de Publicações Oficiais. O corte também passou pelo coordenador de apoio aeroportuário, o famoso ¿diretor de check-in¿, e o de administração das residências oficiais, conhecido como ¿diretor de garagem¿. Segundo Gazineo, a medida vai economizar R$ 400 mil por mês aos cofres públicos.

Tudo como está Nenhuma área foi extinta, entretanto. Isso depende de um ato aprovado pelos senadores que integram a Mesa Diretoria. Heráclito Fortes anunciou que esse assunto deve ser discutido nos próximos dias para que a estrutura de direção do Senado seja diminuída. Por enquanto, os diretores perdem o status e a ajuda extra no salário. Cada área vai analisar se o servidor continuará ou não no comando do serviço como funcionário comum.

Politicamente, Heráclito e o presidente José Sarney (PMDB-AP) tentam controlar a crise interna com as recentes decisões tomadas. Durante a semana que passou, eles anunciaram uma auditoria da Fundação Getulio Vargas, uma comissão para reduzir o número de empresas terceirizadas e a retirada de benefícios, como carros oficiais para servidores. Ontem, o primeiro-secretário anunciou a suspensão de uma obra de R$ 8 mil para construir uma cela destinada a quem for detido por algum crime dentro do Senado. ¿O trabalho está apenas começando¿, afirmou Heráclito, que herdou a gestão administrativa do colega de partido, Efraim Morais (DEM-PB).

Causou surpresa a exoneração de diretores considerados influentes na Casa, como Maria de Fátima Araújo, que comandava a Secretaria de Estágios. A pasta é braço político de Agaciel Maia. Sua mulher, Sânzia Maia, era a diretora até o ano passado. Caiu com a decisão judicial contra o nepotismo. Nessa relação de áreas com força política na Casa, caíram os chefes de duas subsecretarias ligadas à Polícia Legislativa, três da Comunicação Social e um da Gráfica. Segundo a direção-geral, 26 funcionários não efetivos ocupam cargos de direção na Casa. Ontem, não foram incluídos. A promessa é a de que essas pessoas deverão perder as funções nas próximas semanas.