Título: Senadores sobem o tom e já cobram afastamento de Sarney da presidência
Autor: Vasconcelos ,Adriana ; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 24/06/2009, O País, p. 4

O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: Cresce pressão por exoneração de Agaciel

"Se tiver gente com mandato envolvida, que rode também", diz Virgílio

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A divulgação da lista dos 37 senadores supostamente beneficiados pelos 663 atos secretos identificados por uma comissão designada pela 1ª Secretaria provocou revolta na Casa, elevando o tom das críticas à passividade do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), perante a crise. Revoltado com a inclusão de seu nome na lista, publicada ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) - que na véspera sugerira que Sarney se licenciasse do cargo - propôs que ele renuncie ao comando da Casa.

- Não só estou indignado, como perplexo. Isso é de uma gravidade absurda, que já penso em pedir a renúncia dele (Sarney). Não é possível que em quatro meses ele não soubesse.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) - também na lista de supostos beneficiários - foi outro que propôs o afastamento de Sarney:

- Sarney tem de se afastar da presidência do Senado. Ele está esgotado e pesa sobre ele o fato de ter nomeado Agaciel Maia três vezes.

- Sarney deveria se afastar até a apuração das denúncias, até porque ele declarou que não foi eleito para fazer a faxina da Casa - reforçou o líder do PSOL, senador José Nery (PA).

Antes da reunião da Mesa Diretora, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), admitiu que a permanência de Sarney dependeria do anúncio das medidas adotadas pela instituição para tentar debelar a crise:

- Hoje (ontem) é o dia D para Sarney. Não podemos empurrar com a barriga uma crise que tem de ser resolvida imediatamente. O senador Sarney precisa recuperar o direito de ocupar a cadeira de presidente da Casa. E se tiver gente com mandato envolvida, que rode também.

Ao ceder às pressões pela demissão do diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo, que havia assinado a maior parte dos atos secretos, Sarney garantiu mais fôlego. Mas sua sobrevivência no comando da Casa dependerá dos rumos da investigação sobre os atos secretos e de sua disposição efetiva de punir os responsáveis pelas irregularidades.

Vários senadores subiram à tribuna para defender a exoneração do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, alvo de sindicância aberta semana passada para apurar se partiram dele e do ex-diretor da Secretaria de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi as ordens para que o chefe do serviço de publicação do boletim de pessoal do Senado, Franklin Albuquerque Paes Landim, não publicasse determinados atos administrativos.

- Agaciel Maia é um criminoso que tem de ser demitido a bem do serviço público - cobrou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), depois de descobrir que seu gabinete havia sido usado para abrigar, à sua revelia, a filha de um dos assessores de Agaciel.