Título: Arrecadação alta, serviços ruins
Autor: Magalhães , Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 24/06/2009, Economia, p. 19

Para especialistas, impostos são consumidos em gastos correntes

Eduardo Rodrigues, Lino Rodrigues e Aguinaldo Novo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Embora o presidente Lula defenda a atual carga tributária brasileira como imprescindível para a implementação de políticas sociais, especialistas consideram que o peso dos impostos na economia do país não reflete a qualidade dos serviços prestados pelo governo. Para eles, o Estado consome a maior parte dos recursos em gastos correntes - como o pagamento do funcionalismo -, restando pouco para ser investido na sociedade.

O tributarista Ilan Gorin diz que a carga tributária não deve ser vista como a grande vilã, pois é apenas o valor necessário para pagar as contas. O problema, alerta, é o tamanho da máquina pública a ser sustentada.

- Não existe taxa de condomínio cara, o que existe é condomínio com muita despesa. O mesmo ocorre com o Estado brasileiro - diz.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Econômico (IBPT), Gilberto Luiz do Amaral, o volume de tributos só é alto porque a aplicação dos recursos não é adequada. Ele diz que dos mais de R$1 trilhão arrecadados em 2008, apenas cerca de R$40 bilhões foram usados em áreas como saúde e educação:

- Temos carga tributária de país rico e gestão de terceiro mundo.

O economista Raul Veloso critica o crescimento do gasto público corrente, que obriga o governo a arrecadar cada vez mais e desestimula o investimento privado:

- Esse modelo funcionaria perfeitamente se a bonança financeira mundial durasse para sempre.

Já empresários ligados a setores que foram beneficiados pela redução de impostos rebateram as críticas do presidente Lula, de que as empresas não repassam os cortes para os preços. Para eles, a desoneração de IPI reativou a economia. O presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Cláudio Conz, lembra que na última reunião do Grupo de Acompanhamento da Crise - presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega - houve avaliação positiva das medidas, por terem conseguido elevar vendas e manter o emprego.

Já o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse que as desonerações não se traduziram em apropriação de margem pela indústria.

- As desonerações se traduziram em ganho para o consumidor.