Título: Horrorizado, Obama sobe o tom
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Fonte: O Globo, 24/06/2009, O Mundo, p. 25

Presidente rejeita acusações de interferência e condena repressão

Gilberto Scofield Jr.

WASHINGTON. Pressionado por políticos republicanos e pela opinião pública americana, o presidente dos EUA, Barack Obama, endureceu ontem seu discurso sobre a crise no Irã. Obama condenou o que chamou de "ações injustas" do governo dos aiatolás contra os manifestantes que reclamam do resultado das eleições no país, se disse "horrorizado e ultrajado" pela violenta repressão aos opositores iranianos nos últimos dias, e rechaçou as acusações de Teerã de que os EUA e outros países estariam por trás dos protestos. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Rio de Janeiro, condenou a repressão aos protestos no Irã, mas voltou a defender a legalidade da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad.

As declarações de Obama foram feitas na abertura de uma entrevista coletiva dada ontem na Casa Branca, encerrada com ele se dizendo comovido com o vídeo dos momentos finais da estudante Neda Agha-Soltan, baleada em meio a um protesto em Teerã.

- É de cortar o coração.

"Usar países de bode expiatório não funcionará mais"

Foi a primeira vez que Obama usou palavras incisivas numa condenação ao Irã.

- Os EUA e a comunidade internacional ficaram horrorizados e ultrajados com as ameaças, espancamentos e prisões dos últimos dias. Eu condeno com veemência essas ações injustas - disparou o presidente americano. - Já deixei claro que os EUA respeitam a soberania do Irã e não estão absolutamente interferindo.

O presidente rebateu as acusações de alguns membros do governo iraniano que acusam os EUA e outros países de instigarem os protestos.

- Essas acusações são claramente falsas e absurdas. Elas são uma tentativa óbvia de tirar a atenção do povo iraniano do que realmente acontece dentro das fronteiras do país. Esta cansativa estratégia de usar velhas tensões para fazer outros países de bode expiratório não funcionará mais.

Lula diz não duvidar da reeleição de Ahmadinejad

Obama observou, ainda, que a simples repressão das ideias nunca é suficiente para fazê-las desaparecerem e defendeu um governo de "consenso, não de opressão".

- Isto é o que o próprio povo do Irã está pedindo. É o povo iraniano que vai julgar as ações de seu governo - disse Obama. - Aqueles que lutam por justiça sempre ficam do lado certo da História.

Assim como os EUA, muitos países europeus evitaram contestar diretamente os resultados, mas condenaram fortemente a violência contra manifestantes. A França convocou o embaixador do Irã para expressar sua preocupação pelo que chamou de "repressão brutal". Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu o fim imediato de "prisões, ameaças e uso de força".

As vozes dissonantes partiram da Rússia, que declarou respeitar o resultado - o que deve barrar qualquer possibilidade de reação mais dura pelo Conselho de Segurança da ONU ou condenação em bloco pelo G-8 - e do Brasil. No Rio, Lula afirmou ontem considerar improvável que Ahmadinejad não tenha vencido a eleição, mas condenou a repressão aos protestos.

- Existem coisas quase inexplicáveis no Irã. Você tem uma eleição em que o cidadão tem 62% dos votos. Aqui no Brasil a gente está acostumado com fraude eleitoral quando a diferença é de 1 ou 0,5 ponto. Mas quando a diferença é de 62% a 30 e poucos por cento, não é possível, é difícil ter (fraude) - justificou.

COLABOROU: Luiz Ernesto Magalhães