Título: Petista sobe à tribuna para defender Sarney
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/07/2009, O País, p. 3

Ideli assume defesa, mas ordem-unida de Lula constrange parte da bancada

BRASÍLIA. Pressionada pelo Palácio do Planalto a explicitar apoio ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a bancada de senadores do PT passou o dia tentando encontrar uma saída para não expor sua divisão.

Não conseguiu. À noite, após duas horas de reunião, a bancada, completamente rachada, adiou para hoje uma decisão sobre o assunto.

Depois que o DEM, que apoiara a eleição de Sarney, em fevereiro, pediu sua licença do cargo, a bancada do PT passou a ser a principal fiadora da permanência dele no comando da Casa. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), líder do governo no Congresso, foi a única petista a defender publicamente Sarney ontem.

Dos 12 senadores da bancada petista, pelo menos cinco manifestaram contrariedade no apoio a Sarney, porque isso causaria forte desgaste político individual. Mas a recomendação do próprio presidente Lula ao partido, no dia anterior, era de salvar Sarney para manter a governabilidade no Senado.

Diante do impasse, o líder da bancada, Aloizio Mercadante (SP), passou o dia em negociações com outros governistas, antes de reunir os petistas. À noite, depois do encontro, ele disse que os 12 senadores petistas terão uma reunião hoje de manhã com Sarney, e só depois decidirão se mantêm o apoio ao presidente do Senado.

¿ Foi uma decisão coletiva. Vamos procurar Sarney e externar nossa preocupação.

A partir desse diálogo, vamos nos reunir novamente e tirar uma posição conjunta. Não vamos nos manifestar previamente ¿ disse Mercadante.

À tarde, afinada com a posição do presidente Lula, a líder Ideli Salvatti defendeu Sarney no plenário, ao responder a uma intervenção feita pelo senador José Nery (PSOL-PA).

¿ Eu vou defender na bancada que nenhuma medida pode ser adotada contra qualquer um dos senadores, porque tem gente aqui já fazendo proposta de afastamento do presidente Sarney. Sou terminantemente contra qualquer providência que personalize ou tente imputar a um único parlamentar (a culpa) ¿ disse Ideli.

Numa referência indireta a casos de irregularidades envolvendo outros senadores, que começam a aparecer, a líder petista afirmou: ¿ Portanto, não contem com minha participação em movimentos que signifiquem responsabilizar para se livrar do problema antes que as coisas estejam explicitadas. Não se deve tentar achar uma saída rápida e fácil para uma situação que foi construída durante muito tempo.

Cúpula do PT também faz pressão sobre bancada no Senado Além de Eduardo Suplicy (SP), também demonstravam contrariedade com a pressão do Planalto para defender Sarney os senadores Tião Viana (AC), Marina Silva (AC), Paulo Paim (RS) e Flávio Arns (PR).

¿ Vamos esperar a reunião. Só vou falar sobre isso depois da reunião ¿ dizia Flávio Arns, sem esconder o constrangimento.

Além do Planalto, a cúpula do PT também mandou recados para os senadores do partido, alertando que seria um erro político abandonar Sarney neste momento porque atingiria diretamente o presidente Lula. Por causa disso, o próprio Mercadante evitou ontem fechar um acordo com a oposição para a instalação imediata da CPI da Petrobras. Pediu mais um tempo para avaliar o cenário político. (Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos)