Título: Sarney perde apoio do DEM e fica só com PT
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/07/2009, O País, p. 3

PSDB, PDT e PSOL também pedem afastamento do presidente do Senado, que recebe visita de Dilma com apelo de Lula por calma

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti BRASÍLIA Depois de o PSOL protocolar representação na Secretaria Geral da Mesa propondo a abertura de processo por quebra de decoro contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mais três partidos, DEM, PSDB e PDT, defenderam formalmente sua licença do cargo. Para se contrapor à pressão pelo afastamento de Sarney, a bancada do PMDB divulgou uma nota ¿ assinada por 17 de seus 19 representantes ¿ reiterando apoio ao presidente do Senado e aos demais integrantes da Mesa Diretora. Mas, acuado, Sarney preferiu não aparecer em plenário, o que reforçou entre seus aliados dúvidas sobre sua capacidade de enfrentar os constrangimentos a que está sendo submetido e continuar no comando da Casa.

A pedido do presidente Lula, que está na Líbia, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) foi ontem à noite à casa de Sarney. Transmitiu a preocupação de Lula com a situação no Senado e também o apelo do presidente para que não tome qualquer decisão antes de seu retorno ao Brasil, previsto para a noite à hoje.

Lula quer conversar pessoalmente com Sarney, o que deve ocorrer amanhã.

Mesmo contando com o apoio de uma maioria, ainda que frágil, Sarney demonstrou abatimento.

Pela primeira vez nos últimos dias, a possibilidade de se afastar do cargo foi cogitada no seu grupo mais restrito, inclusive na família. O que mais abalou Sarney foi a decisão do DEM de pedir sua licença da presidência, pelo menos até a conclusão das investigações sobre a participação da empresa de seu neto José Adriano Cordeiro Sarney em contratos de empréstimos consignados oferecidos a servidores da Casa.

A decisão da bancada não foi unânime, mas Sarney sentiu o golpe, já que o DEM apoiara sua candidatura. Além de Heráclito Fortes (DEMPI), foram contra a proposta Antonio Carlos Magalhães Júnior (BA) e Eliseu Rezende (MG).

¿ Tenho muito apreço pelo presidente Sarney, mas tenho mais apreço pelo Senado. Nosso compromisso é com a legalidade e com a isenção nas investigações. Portanto, enquanto há investigação, que ele se afaste para que haja isenção.

Foi uma decisão de consenso ¿ justificou o líder do DEM, José Agripino (RN).

Na mesma linha, o líder do PDT, Osmar Dias (PR), anunciou em plenário a decisão de sua bancada, de cinco parlamentares.

¿ Todos que consultei foram a favor da licença ¿ afirmou.

Sarney foi ao Senado à tarde, mas ignorou apelos do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que solicitou sua presença em plenário para anunciar a decisão da bancada tucana de pedir sua licença da presidência. Virgílio esperou até as 17h30m e, então, revelou que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), sugerira antes que Sarney se afastasse e nomeasse uma comissão de alto nível, com senadores de sua escolha, para conduzir as investigações e tomar providências.

Sarney não aceitou.

¿ Se ele (Sarney) entende que não cabe uma comissão de alto nível, que se afaste.

Não lhe peço a renúncia, porque foi eleito legitimamente, mas que se licencie ¿ defendeu Virgílio.

Marconi Perillo (PSDBGO), que presidia a sessão, reagiu irritado à proposta, já que a comissão, na prática, assumiria atribuições da Mesa, à qual integra como 1ovicepresidente: ¿ Não posso concordar com a criação de uma comissão que desconsidera a minha pessoa. Tenho, como vice-presidente, condições e disposição para ajudar o Senado.

Marconi recebeu a solidariedade do 1osecretário, Heráclito Fortes: ¿ Intervenção, não. Grupo para controlar a Mesa, não. Bedel de secretário, não. Com todo o respeito, essa não é uma solução para resolver a crise, mas para criar mais crise.

Guerra voltou à tribuna. Disse que a comissão não pretendia se contrapor à Mesa, mas ajudá-la a fazer uma reforma administrativa.

¿ A grande tragédia é que não temos mais presidência do Senado. Precisamos de um banho de sensatez ¿ argumentou Guerra.

A nota do PMDB em apoio a Sarney foi articulada pelo líder do partido, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas quem a leu em plenário foi Valdir Raupp (PMDB-RO).

¿ O presidente não pode ser responsabilizado por erros cometidos por servidores ¿ disse Raupp.

Na representação contra Sarney, o PSOL incluiu denúncia contra Renan, ex-presidente do Senado. O partido pede que o Conselho de Ética investigue a responsabilidade de ambos nos atos secretos. Garibaldi Alves (PMDB-RN), que presidiu a Casa em 2008, ficou de fora.

¿ Os atos secretos assinados por Garibaldi são inócuos. Já os editados nas gestões de Sarney e Renan são relevantes e suspeitos ¿ disse a presidente do PSOL, a vereadora Heloisa Helena.

Por enquanto, as representações deverão ficar paradas: o Conselho não foi sequer instalado.