Título: Aconselhado a se licenciar, Sarney reúne a família para tomar decisão
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 01/07/2009, O País, p. 4
Aliados avaliam que só saída reduzirá pressão sobre o senador e o Senado
Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos BRASÍLIA. Apesar da nota divulgada ontem à noite por sua assessoria informando que seu afastamento da presidência do Senado ¿sequer está em análise¿, o comportamento do senador José Sarney (PMDB-AP) ao longo do dia mostrou o contrário.
Nos bastidores, comentários de aliados indicavam que Sarney já começa a dar sinais de que poderá se licenciar para reduzir a pressão sobre si e a família, a despeito do apoio do PMDB, do PT e do governo Lula.
Sarney consultou aliados políticos para colher opiniões.
À noite, pretendia se reunir com o núcleo mais próximo, além dos filhos, para tomar uma decisão. Seus aliados avaliam que o afastamento seria a melhor opção, pois, se ele não sair agora, pode ser obrigado a fazer isso com a abertura de um processo no Conselho de Ética por quebra de decoro, possibilidade agora prevista no regimento interno.
¿ A família está solidária e o apoiará no que ele decidir. Mas ele não vai tomar uma decisão por emoção ¿ disse a governadora do Maranhão e filha do senador, Roseana Sarney.
O clima na família é de preocupação, especialmente com a saúde do senador, de 79 anos.
A avaliação do núcleo familiar é que Sarney está no foco do tiroteio há cinco meses e que, enquanto ele não se afastar, a pressão continuará.
Mágoa com o DEM e com postura ¿agressiva¿ de Virgílio Em conversas ao longo do dia, Sarney avaliou que a crise ameaça a governabilidade do Senado. Estiveram em sua residência senadores como Renan Calheiros (PMDB-AL), Gim Argelo (PTB-DF) e Fernando Collor (PTB-AL). Num desabafo, demonstrou mágoa com o DEM, que pediu seu afastamento. Ele acreditava que o partido não recuaria no apoio, já que o comando administrativo da crise foi repassado ao 1osecretário, senador Heráclito Fortes (DEM-PI).
Segundo aliados, Sarney desabafou que estava pagando por problemas administrativos causados, inclusive, pelo feudo do DEM na 1asecretaria, em referência à gestão de quatro anos do senador Efraim Morais (DEM-PB). Sarney demonstrou mágoa com o que chamou de postura ¿agressiva¿ do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Abatido, Sarney tentou retomar a rotina ao presidir, de manhã, sessão em homenagem à Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, mas à tarde não apareceu em plenário. O senador Mão Santa (PMDB-PI) lhe dispensou tantos elogios que Sarney mandou um bilhetinho pedindo ao colega que elogiasse os servidores homenageados.