Título: Pobres trabalham mais por imposto
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 01/07/2009, Economia, p. 23

Brasileiro com renda menor levou 197 dias para quitar tributos em 2008

Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os brasileiros trabalharam em média 132 dias em 2008 para pagar impostos, elevando a carga tributária - segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - a 36,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país). De acordo com o estudo, o peso dos tributos é maior para quem ganha menos. Enquanto trabalhadores com renda de até dois mínimos (R$930) precisaram trabalhar 197 dias para o caixa do Fisco, os que têm remuneração de 30 ou mais salários (R$13,9 mil) quitaram as obrigações em 106 dias - três meses a menos.

Algumas camadas da população acabam fazendo um esforço maior para financiar o funcionamento do Estado e das políticas públicas porque a distribuição da carga tributária no Brasil não é equânime. Assim, o pagamento de impostos abocanhou 53,9% da renda das famílias mais pobres em 2008, enquanto onerou 29% dos rendimentos dos mais abastados.

Para o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, a diferença está concentrada nos impostos indiretos que incidem igualmente para todos os cidadãos sobre o consumo de itens básicos.

- Quaisquer R$10 de tributos na alimentação, por exemplo, proporcionalmente têm um peso muito maior no orçamento de quem ganha um salário - explicou Pochmann.

Além disso, devido à pouca visibilidade dessa tributação, muitos acreditam que não pagam impostos por estarem isentas de tributos visíveis, como o Imposto de Renda.

- O sistema não é transparente o bastante. Os contribuintes precisam saber que as políticas sociais não são prêmios concedidos pelo governo, pois eles pagaram por isso - disse o coordenador de Finanças Sociais do Ipea, José Aparecido Ribeiro.

- A experiência dos países desenvolvidos aponta a importância da elevação dos tributos diretos sobre a riqueza, e a redução dos que incidem sobre o consumo básico - arrematou Pochmann.

O estudo mostra a destinação dos tributos. O trabalho de 24 dias arcou com os benefícios da Previdência Social. Outros 7,7 dias foram destinados à cobertura das pensões e aposentadorias dos servidores federais. Enquanto o pagamento de juros da dívida pública foi responsável por absorver 20,5 dias de trabalho dos cidadãos, o Bolsa Família demandou 1,4 dia.

O Impostômetro, painel eletrônico mantido pela Associação Comercial de São Paulo, cravou na tarde de ontem o valor de R$500 bilhões em impostos pagos nas três esferas de governo desde o início do ano. Em 2008, a marca foi alcançada cinco dias antes. Responsável pelos cálculos, o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Gilberto Luiz do Amaral, prevê que a arrecadação no ano deve superar R$1 trilhão pelo segundo ano.

COLABOROU: Aguinaldo Novo