Título: Governo mantém meta de inflação em 4,5%
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 01/07/2009, Economia, p. 19

Temeroso com efeitos da crise, CMN repetiu taxa usada como referência nos últimos cinco anos para 2010 e 2011

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu ontem que a meta de inflação para 2011 vai ser a mesma adotada nos últimos cinco anos: 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O anúncio - que também incluiu a ratificação do mesmo objetivo para 2010 - foi feito sem explicação dos integrantes do conselho, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Só uma nota da Fazenda foi divulgada, deixando claro que o governo optou por uma ampla margem de segurança diante do que ainda se considera um cenário incerto com o abalo global.

O CNM também reduziu a TJLP, usada nos empréstimos a empresas pelo BNDES, de 6,25% para 6% ao ano, para estimular o setor de máquinas e equipamentos.

Na avaliação do CMN, vindo de uma crise e em ano eleitoral, o melhor é deixar folga para que sejam alcançados os melhores resultados possíveis no crescimento da economia. "No momento atual, a crise implica forte retração da atividade econômica global em 2009, e as expectativas para a inflação mundial são de acomodação, sem a evidência de pressões altistas no futuro próximo. Ainda assim, a boa prática da administração monetária recomenda prudência em relação à possibilidade de ocorrência de novos choques internacionais", diz o texto.

Hoje, a taxa básica de juros Selic está em 9,25% ao ano, pela primeira vez no patamar inédito de um dígito. O mercado calcula que a inflação pelo IPCA de 2009 ficará em 4,4%, a de 2010, em 4,3%, e a de 2011, em 4,5%. "Essa decisão tem por objetivo manter a credibilidade e a flexibilidade da política monetária e proporcionar, simultaneamente, o controle da inflação nos próximos anos", diz o texto da Fazenda.

CMN anuncia medidas para apoiar agências de fomento

A nota também oferece resposta às sugestões do segundo escalão da equipe econômica de aproveitar que a variação de preços cedeu com o ritmo da atividade para testar uma meta menor, entre 4% e 4,25%:

"Uma das principais vantagens do sistema de metas de inflação é a sua flexibilidade para acomodar situações extraordinárias. Metas restritivas e ambiciosas podem se revelar prejudiciais à administração da política monetária, como ocorreu entre 2001 e 2003, quando a inflação ficou acima do teto estabelecido pelo CMN com dois anos de antecedência".

No BC, o diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, até tentou iniciar um debate sobre uma meta menor em 2011, mas não teve apoio de Meirelles. Na Fazenda, o ensaio foi da Secretaria de Política Econômica. Mantega também não levou a conversa adiante.

Além da opção pela fórmula mais fácil de estimular a retomada econômica, o CMN avalia que é politicamente indesejável mudar uma meta que terá de ser perseguida por um novo governo. Meirelles e Mantega argumentam que, se este caminho tiver o apoio geral, a meta de 2011 poderá ser mudada no ano que vem, quando o CMN terá de confirmá-la.

O mercado financeiro não tinha dúvidas de que o CMN cravaria 4,5% para 2011. O economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, entende que o governo não quis arriscar uma meta que, com uma mudança de conjuntura, poderia fazer o BC voltar a subir os juros.

O CMN também definiu ontem uma série de medidas que ampliarão o fôlego das agências de fomentos estaduais e dos bancos de desenvolvimento regionais, para apoiar o pacote de estímulo à economia anunciado na véspera pelo governo. As instituições poderão fazer novas operações, como leasing e câmbio para empreendedores de pequeno porte, inclusive pessoas físicas. A ideia é financiar a compra de máquinas, equipamentos, o comércio exterior, capital de giro, entre outros.

A medida também permite que essas instituições comprem participações acionárias de empresas - mas não o seu controle - com sede no Brasil e que não sejam de natureza financeira.