Título: Sarney cobra apoio do PT e tenta dividir a decisão com o governo
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/07/2009, O País, p. 4

"Querem responsabilizá-lo por tudo. Quem dá pulo é José", reclama Roseana

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Dividido entre os que o pressionam para deixar o cargo e os que tentam convencêlo a ficar, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pôs ontem em prática uma estratégia em busca de saída honrosa, qualquer que seja seu destino.

Ciente de que sua renúncia pode deflagrar uma crise sem precedentes na base governista, Sarney decidiu jogar nas mãos do governo a responsabilidade por sua permanência no comando do Senado e forçar o PT a se unir ao PMDB no esforço para mantê-lo no comando da Casa.

Em meio aos rumores que davam como certa sua renúncia, Sarney apareceu ontem à tarde no Senado e presidiu a sessão de homenagem ao deputado José Aristodemo Pinotti (DEM-SP), que morreu de câncer na madrugada de ontem. Durante as duas horas em que presidiu a sessão, porém, não permitiu que a crise do Senado fosse abordada. Com a ajuda do 1osecretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), interrompeu o líder do PSOL, senador José Nery (PA): ¿ Estamos fazendo uma homenagem a um parlamentar, Vossa Excelência terá outras oportunidades para tratar desse assunto ¿ apelou Heráclito.

¿ Queria fazer o mesmo apelo para que não transformemos essa sessão de homenagem numa de debates políticos ¿ emendou Sarney, que na saída não deu entrevista.

Ao longo do dia, se reuniu pelo menos duas vezes com senadores do PT. Recebeu visitas de solidariedade de deputados petistas e de aliados como Renan Calheiros (PMDB-AL). A filha Roseana Sarney, governadora do Maranhão, adiantou o tom do discurso que Sarney poderá adotar ao anunciar a decisão: ¿ Ele tem maturidade e experiência para saber o que faz.

É um homem importante para o Senado e o Brasil. Acho que tomará a decisão correta, a que considerar melhor para o Brasil.

Ele sempre teve em mente a coisa maior, o Brasil, não ele.

Ministros do PMDB saem em defesa de senador Para Roseana, seu pai se transformou em bode expiatório da crise no Senado.

¿ Como dizem no Maranhão: dance quem dance, quem dá pulo é José. Está acontecendo mais ou menos isso. Quem dá pulo é José. Querem responsabilizálo por tudo, embora esses problemas venham de muito tempo ¿ acrescentou.

Ministros do PMDB saíram em defesa de Sarney. Na Comissão de Relações Exteriores, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que ele não pode ser responsabilizado pela crise: ¿ As soluções têm que visar ao interesse das instituições democráticas.

Não adianta intervenção para este que é um problema antigo. Que se mudem regras, mas não se podem debitar problemas apenas a um personagem, tendo em vista eleições de 2010 ¿ afirmou Jobim.

¿ Ele (Sarney) é um político ameno, inteligente e talentoso.

Escuta líderes, amigos, e a decisão será sempre dele. O governo não tem interesse na saída dele, como não temos nós do PMDB e como não têm os senadores que o apoiaram. As conversas que tenho tido com ele não são nessa direção (renúncia ou licença) ¿ afirmou o ministro Edison Lobão (Minas e Energia).

Em carta aos colegas de Senado, Sarney listou providências tomadas pela Mesa Diretora para dar transparência a ações do Senado. Nenhuma das 36 citadas refere-se às denúncias de que foi alvo, como contratações de 12 parentes e agregados de sua família ou à atuação de seu neto, José Adriano Cordeiro, em contratos de empréstimo consignado no Senado.