Título: Déficit externo cresce, mas investimento é recorde
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Fonte: O Globo, 25/06/2009, Economia, p. 27

Capital estrangeiro aplicado no setor produtivo somou US$2,4 bi em maio. Transações correntes têm saldo negativo de US$ 1,7 bi

Patrícia Duarte e Aguinaldo Novo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O balanço de pagamentos (onde estão registradas todas as operações do país com o exterior) continua salvo pelo apetite dos investidores estrangeiros pela economia do Brasil. Em maio, as transações correntes (fluxo de bens e serviços) registraram déficit de US$1,738 bilhão - o dobro do saldo negativo visto um ano antes, de US$786 milhões, e o pior número desde os US$2,5 bilhões de janeiro. No mesmo período, porém, os investimentos estrangeiros diretos (IED) alcançaram US$2,483 bilhões, o maior desde 1947 para o mês.

A solidez da economia brasileira foi apontada pelo Banco Central (BC), que divulgou ontem os dados, como responsável pela atração de capital produtivo. Este integra a conta financeira do balanço de pagamento. Se esta ficar suficientemente positiva para cobrir o déficit corrente, as contas externas brasileiras ficam no azul, afastando riscos de vulnerabilidade.

- A despeito da redução da liquidez internacional, o Brasil deve continuar recebendo recursos mais de longo prazo, como IED. Isso mostra que a nossa economia está bem - afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Ele acrescentou que os investimentos diretos, que até ontem somavam US$1,2 bilhão, devem fechar junho em US$1,5 bilhão. No ano, somam US$11,234 bilhões desde janeiro. No déficit corrente, pesaram os números negativos das remessas de lucros e dividendos (US$2,559 bilhões), do pagamento de juros (US$378 milhões) e das viagens internacionais (US$426 milhões). No ano, o saldo corrente tem déficit de US$6,612 bilhões.

Mas o BC melhorou suas projeções para 2009. Para a conta corrente, o déficit esperado caiu de US$16 bilhões para US$15 bilhões. O principal fator foi uma redução na expectativa para as importações de US$141 bilhões para US$138 bilhões.

Outro indicador financeiro importante, e que também está dando sinais de melhora é a taxa de rolagem das dívidas. Enquanto em maio ela ficou em 35%, até ontem ela já havia subido para 99%. Ou seja, praticamente toda a dívida que estava vencendo neste período foi refinanciada. O número de junho exclui a captação de US$1 bilhão feita pelo BNDES. Com ela, a taxa de rolagem chegaria a 340%.

Os estrangeiros que investem no mercado financeiro e no setor produtivo brasileiros aceleraram o ritmo de saques na terceira semana de junho, contribuindo para uma redução do fluxo cambial - entrada e saída de moeda do país. Os ingressos líquidos, considerando a balança comercial, somavam US$380 milhões entre os dias 1º e 19, contra US$661 milhões na primeira quinzena do mês, informou o BC. No ano, o superávit cambial é de US$1,970 bilhão.

Até o dia 19, a conta financeira, por onde passam os investimentos estrangeiros diretos, em ações e em títulos, estava negativa em US$627 milhões, o triplo do valor até o dia 12 (US$205 milhões). Pela conta comercial, segundo o BC, o saldo ficou positivo em US$1,007 bilhão. No ano, o superávit chega a US$66,724 bilhões.

Menos investimentos brasileiros no exterior

Enquanto o volume de IED dá sinais de recuperação, os números referentes ao Investimento Direto Brasileiro amarga tombo de 87% de janeiro a maio deste ano, na comparação com 2008. Pelos dados do BC, os investimentos brasileiros no exterior somaram US$1,641 bilhão no período, enquanto o IED somou US$11,2 bilhões, ainda 19,7% inferior ao de 2008. Mas mercado espera novo recorde no IED nos próximos meses.

- Houve uma percepção negativa exagerada por parte do mercado, mas o entendimento é que o estrago da crise no país não será tão grande - afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, que analisou os dados do BC.