Título: Após jantar com Lula, PT adia decisão sobre Sarney
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 04/07/2009, O País, p. 5
O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: Presidente rejeita qualquer solução intermediária: "Se ele sair, não volta"
Estratégia agora é ganhar tempo para amenizar desgaste político; Mercadante pôs o cargo à disposição
Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Mesmo depois de um longo jantar no qual o presidente Lula tentou enquadrar de vez a bancada petista, os senadores do PT resolveram adiar para a próxima semana a decisão de apoiar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), numa tentativa de ganhar tempo. Segundo senadores petistas ouvidos pelo GLOBO, a estratégia é tentar "empurrar com a barriga" uma definição, com o objetivo de amenizar o desgaste político do apoio a Sarney. Foi a terceira vez que a bancada decidiu adiar uma posição sobre o presidente do Senado e aliado de Lula.
Os senadores petistas ainda procuram uma saída honrosa, depois que Sarney não aceitou a proposta de tirar uma licença temporária, com aval de Lula. Uma solução intermediária seria Sarney criar comissão de senadores para fazer as mudanças estruturais no Senado.
- O impasse continua - resumiu a líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Dilma e Gilberto Carvalho reforçaram pressão
No momento mais tenso do jantar no Palácio da Alvorada, o líder da bancada petista, Aloizio Mercadante (SP), teria posto seu cargo à disposição dos colegas, depois da forte pressão do presidente Lula por uma definição imediata da bancada em favor de Sarney. Os petistas deixaram o Alvorada na madrugada de ontem, após quatro horas de conversa, ainda mais confusos.
Ao lado da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o presidente Lula foi duro na cobrança de solidariedade e fidelidade ao aliado, dizendo que o afastamento não era a melhor solução, pois Sarney corria o risco de não voltar para o cargo. Além disso, a renúncia iria desestabilizar seu governo. Depois de ouvir os argumentos de Mercadante em favor de uma licença, Lula foi curto:
- Isso não dá, se ele sair, não volta.
Diante disso, Mercadante disse que era preciso respeitar a posição da bancada e que não era possível enquadrar os senadores:
- Meu cargo de líder está na mesa. Não podemos perder o foco da crise do Senado e temos de ter responsabilidade com a governabilidade, mas precisamos respeitar a posição da bancada, não dá para enquadrar - disse ele, segundo petistas.
Petistas negam que tenham sido enquadrados por Lula
Com o impasse, a bancada petista ganhou fôlego para encontrar uma solução conjunta. Mesmo concordando com o presidente Lula que a governabilidade "é uma questão de Estado" e depende da aliança com o PMDB, a bancada do PT insiste que a licença representaria "um gesto de grandeza" necessário para garantir transparência às investigações das denúncias contra o Senado pelo Tribunal de Contas da União, Polícia Federal e Ministério Público.
- Mas o presidente Lula não concorda com a licença porque acha que dificilmente Sarney retornaria para o comando do Senado. Sua saída, segundo Lula, aprofundaria a crise política e geraria um quadro de mais instabilidade porque a oposição tem interesse em controlar o Senado no tapetão - relatou Mercadante ontem.
O líder petista ressaltou o compromisso da bancada com a construção de um novo Senado. Segundo ele, o PT não pretende abdicar da apuração rigorosa de todas as irregularidades detectadas dentro do Senado e da punição dos culpados. Uma preocupação dos petistas que acompanharam ontem a entrevista de Mercadante - entre eles Tião Viana (AP), Eduardo Suplicy (SP), Ideli Salvatti (SC), Paulo Paim (RS) e Marina Silva (AP) - foi negar que a bancada tenha sido enquadrada por Lula.
- A bancada vai se reunir na próxima terça-feira para tomarmos uma posição final. Continuamos defendendo a licença temporária de Sarney e as propostas de reforma do Senado. Não houve enquadramento - reiterou Paim.
- Vamos refletir até a próxima terça-feira - emendou Suplicy.