Título: Sarney ocultou casa da Justiça Eleitoral
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/07/2009, O País, p. 12

O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: "Minha casa está declarada no Imposto de Renda desde que comprei", alega

Senador primeiro culpa contador e depois alega ter esquecido de citar residência de R$4 milhões onde mora na capital

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), teve ontem que explicar por que a casa onde mora na capital federal - uma mansão avaliada em R$4 milhões, na Península dos Ministros, que teria sido comprada em 1997 - não foi incluída em sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral em 1998 e em 2006.

Em duas notas divulgadas por sua assessoria, Sarney primeiro atribuiu o erro a seu contador, alegando que ele teria repetido em 2006 a declaração de bens apresentada em 1998. Logo depois, corrigiu a informação afirmando que a casa teria ficado de fora por "esquecimento". Acompanhava a primeira nota certidão emitida pelo Tribunal de Contas da União (TCU) atestando que a mansão consta das declarações do Imposto de Renda dos anos calendário 1999 a 2007, exercícios 2000 a 2008.

Segundo reportagem de ontem do jornal "Estado de S. Paulo", Sarney teria comprado a casa em 1997 do banqueiro Joseph Safra, por meio de contrato de gaveta. O imóvel, adquirido na época por R$400 mil, teria sido quitado só em 1998, mas sua escritura teria sido lavrada em cartório apenas no ano passado, indicando que 50% da propriedade foi registrada no nome de Sarney e os outros 50% em nome do deputado federal Zequinha Sarney (PV-MA), seu filho.

A casa, porém, não constaria da declaração de bens apresentada por Sarney ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá, na qual o imóvel de maior valor listado é um terreno de R$60 mil em Santo Amaro, nos Lençóis Maranhenses.

Em entrevista ontem à Rádio do Moreno, no site do GLOBO, Sarney disse que a notícia é "um pastel de vento":

- Minha casa está declarada no Imposto de Renda desde que comprei. Tem hoje uma certidão do Tribunal de Contas dizendo justamente isso, porque somos obrigados, todo ano, a mandar declaração de renda para o tribunal de contas... (A notícia) é apenas um pastel de vento.

Mesmo assim, a assessoria de Sarney se atrapalhou nas explicações. Na primeira nota, contestou a notícia e alegou que a casa em que mora em Brasília teria sido comprada em leilão público, realizado em 19 de agosto de 1997, em São Paulo, pelo leiloeiro Ronaldo Milan, conforme anúncio publicado nos jornais em 13 de agosto do mesmo ano. A quitação teria sido feita em dez parcelas.

Nesse período, segundo explicações do senador, o imóvel teria permanecido no nome do antigo dono, motivo pelo qual a propriedade não teria sido incluída na sua declaração de Imposto de Renda de 1998 e na Justiça Eleitoral naquele ano.

A partir de 1999, diz a nota, a casa teria passado a constar da declaração do senador José Sarney à Receita Federal. O registro do contrato de compra e venda teria sido lavrado em cartório no dia 2 de setembro de 1997, mas o presidente do Senado admitiu que a formalização da escritura só teria sido feita em 2007. A nota não explica por que essa escritura não indica que a propriedade foi adquirida por meio de leilão público.

Não convenceu o líder do DEM, José Agripino (RN):

- Ainda há pontos a esclarecer - cobrou.