Título: PF desmonta esquema de grilagem em MT
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 04/07/2009, O País, p. 13

Entre os 13 presos, está o ex-comandante da PM na gestão de Blairo Maggi; quadrilha é acusada de ameaçar posseiros

Anselmo Carvalho Pinto

SÃO PAULO. A Polícia Federal prendeu ontem o ex-comandante-geral da PM de Mato Grosso, coronel Adaildon Evaristo de Moraes Costa, e mais 12 pessoas acusadas de grilagem de terras na região do Araguaia, no Noroeste de Mato Grosso. Costa comandou a Polícia Militar do estado entre janeiro de 2005 e maio de 2007, na gestão do atual governador, Blairo Maggi (PR).

Investigações da PF e do Ministério Público mostraram que o coronel compunha o "braço armado" de uma organização especializada em fraudar títulos de terras, ocupar áreas ilegalmente, ameaçar posseiros e derrubar vegetação protegida. Os crimes ocorreram entre os anos de 2002 e 2005. Há suspeita de que o grupo tenha cometido assassinatos.

O coronel Adaildon Costa havia sido demitido do cargo de comandante-geral da PM em 16 de maio de 2007 por causa da desocupação da fazenda Bordolândia, em São Félix do Araguaia. Na época, descobriu-se que a ordem judicial determinava apenas uma busca e apreensão de armas, mas os PMs realizaram a desocupação da fazenda, usando a força. A partir daí surgiram as suspeitas de que ele agia a serviço de grileiros.

Ao todo, o juiz federal Julier Sebastião da Silva decretou a prisão temporária de 18 pessoas, nos Estados de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Até o final da tarde de ontem, 13 haviam sido presas - dez delas em Mato Grosso.

Da Polícia Militar, além do coronel Adaildon Costa, também foram presos o coronel Elierson Metello de Siqueira, mais dois majores, um capitão e um subtenente.

Existe a suspeita de que os PMs estimulavam a invasão de fazendas para, depois, promover sua desocupação mediante pagamento de grileiros.

- Eles também vendiam segurança para fazendeiros cujas terras eram visadas por movimentos sociais para reforma agrária - explicou o delegado Oslaim Santana, superintendente da PF em Mato Grosso.

Suposto chefe da quadrilha foi citado em CPI

A PF e o MPF dizem que o chefe da quadrilha era Gilberto Luiz Rezende. Ele é acusado de comandar a invasão e grilagem das fazendas Bridão Brasileiro, Ayrton Senna, Porta da Amazônia, Rio Preto e Gleba Novo Horizonte. Em 2005, Gilbertão, como é conhecido, foi citado pela CPI da Grilagem de Terras. Segundo depoimentos dados à comissão, posseiros de sete fazendas foram forçados a vender suas terras após sofrer ameaças de Gilbertão.

A PF e o MPF detectaram a mesma prática. Na fazenda Bridão Brasileiro, dezenas de famílias foram expulsas por policiais militares a mando de Rezende, segundo as investigações. O mesmo aconteceu na Gleba Novo Horizonte, onde 90 famílias viviam na década de 90 e hoje há apenas quatro.

O grupo é acusado de fazer a escrituração, a matrícula e o registro de áreas no interior da reserva indígena Marawatesede, em Alto Boa Vista (MT). Assim, eles conseguiam transferir para o nome de particulares áreas federais, que, em seguida, eram vendidas a grandes grupos empresariais. A fraude tinha a participação da escrevente do Cartório de Registro de Imóveis de São Félix do Araguaia (MT), Maria Elizabeth Carvalho, que teve a prisão temporária decretada.

O atual comandante da PM, coronel Antônio Benedito Campos Filho, informou que na próxima segunda-feira vai requisitar documentos à Justiça Federal para iniciar uma investigação interna contra os policiais. Eles podem até ser expulsos:

- Esta investigação foi iniciada pela PM. Somos uma referência nacional em punir policiais que cometem delito. Assim que recebemos a denúncia, encaminhamos para o Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado).