Título: A república sindicalista instalada na Petrobras
Autor: Otavio,Chico ; Farah,Tatiana
Fonte: O Globo, 05/07/2009, O País, p. 3

Pelo menos 22 ex-ativistas ocupam hoje postos estratégicos na estatal

Chico Otavio e Tatiana Farah RIO DE JANEIRO e SÃO PAULO

UM POÇO DE POLÊMICAS

Protestar, ocupar, parar e resistir. A vida sindical parecia não trazer outros desafios para Wilson Santarosa e seus companheiros, líderes de jornadas que paralisaram refinarias e campos de produção da Petrobras nos anos 80 e 90. A cada crise, fosse um vazamento ou uma plataforma afundada, lá estavam eles, tentando alimentar o noticiário com denúncias.

Mas os tempos mudaram, e os desafios também. Hoje, pelo menos 22 deles saltaram das assembleias e dos piquetes para postos estratégicos na estatal. Juntos, formam a república sindical que movimenta uma poderosa máquina política, presente em projetos sociais de 938 prefeituras, no comando do segundo maior fundo de pensão do país e do programa do biodiesel.

A lista, levantada pelo GLOBO, aponta ex-sindicalistas na presidência e nas gerências de Gás e Energia, Comunicação Institucional e Recursos Humanos da Petrobras, além da Transpetro e da direção da Petros, fundo de pensão com 64 mil participantes ativos e patrimônio de R$ 47 bilhões. Dos 22 nomes, egressos da Federação Nacional dos Petroleiros (FUP) e da Articulação Sindical, versão da corrente majoritária petista no sindicalismo, 17 são vinculados ao PT ¿ como ex-candidatos, ex-colaboradores de governo, exparlamentares e doadores de campanha ¿ e um ao PCdoB.

A maioria do grupo militou nas bases de São Paulo e Rio de Janeiro, mas há também ex-dirigentes da Bahia e do Ceará. Nas greves de 1983, ano da fundação da CUT, e principalmente de 1995, quando os petroleiros pararam a empresa por 32 dias, eles forjaram a fama de ¿ponta firme¿, gíria sindical para militante determinado e confiável. Três deles chegaram a processar a Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Um, inclusive, acompanhou militantes do MST na invasão da sede da ANP no Rio.

Do discurso inflamado, porém, nada restou. No poder, o grupo trocou o megafone pelos ternos e os jornais do sindicato pelas grandes campanhas publicitárias.

Alguns compraram empresas. Outros saíram de vilas operárias para morar em imóveis de bairros nobres. São assediados pela classe política e empresarial, e já aprenderam a circular em salões e roteiros internacionais.

Responsável pela verba publicitária, pelo relacionamento com a mídia e pela distribuição de recursos para programas sociais e ambientais (só em 2008 foram destinados R$ 544 milhões para mais de 2.300 projetos), a Comunicação Institucional é o abrigo preferencial dos ex-sindicalistas. Sete deles estão lá, entre os quais Wilson Santarosa, ex-presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas (SP), que comanda a gerência. Além dessa, as quatro gerências regionais, a Comunicação de Crise e a Gerência de Relacionamento (Comunicação interna) estão sob o controle de ex-dirigentes sindicais.

Demitido por greve hoje gerencia crises

O gerente de Crise, Erasmo Granado Ferreira, é o exemplo mais emblemático dessa mudança de atitude dos sindicalistas. Como dirigente do SindiPetro de Campinas, partiu para o confronto com a estatal e acabou demitido na greve de 1983, sendo anistiado em 2004. Hoje, comanda com zelo extremo o controle de dados que possam comprometer a imagem da empresa.

Com 1.150 funcionários, a Comunicação Institucional gastou nos últimos três anos mais de R$ 900 milhões anuais. Seus gerentes são acusados de favorecer prefeituras aliadas na distribuição de recursos sociais.

Este ano, por exemplo, o PT lidera as prefeituras do Nordeste que tiveram festas juninas patrocinadas pela empresa ¿ 20 de um total de 86, seguidas pelo PMDB, com 12.

O RH é outro setor estratégico nas mãos de sindicalistas. O gerente, Diego Hernandes, ex-dirigente do SindiPetro de Mauá, responde pela relação com sindicatos, associações de classe e a Petros. Apesar da experiência, a tarefa é espinhosa. O grupo de Diego deixou de ser maioria absoluta no setor petroleiro ¿ dos 17 sindicatos, seis são dissidentes ¿ e o gerente, ao lado do presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, já foi alvo de enterro simbólico realizado por aposentados.

No setor de Gás e Energia, o gerente de Desenvolvimento Energético, Mozart Schmitt de Queiroz, é exdirigente do SindiPetro do Rio. Ele cuida de temas como o biodiesel.

Na presidência, eram dois ex-dirigentes, mas o staff subiu para três com a chegada de Rosemberg Pinto, transferido da Comunicação após ser alvo de denúncia por uso político de verbas sociais.