Título: Após rachar sindicatos de petroleiros, oposição divide o controle da Petros
Autor: Otavio,Chico ; Farah,Tatiana
Fonte: O Globo, 05/07/2009, O País, p. 4

Dissidentes de grupo de Santarosa ocupam conselho do fundo de pensão

Chico Otavio e Tatiana Farah

UM POÇO DE POLÊMICAS: Considerada `governista¿, a FUP vai perdendo espaço

RIO e SÃO PAULO. Controlar setores estratégicos da Petrobras, como a Comunicação Institucional, não assegurou aos fundadores da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ligada à CUT e à tendência majoritária do PT, a hegemonia de mais de duas décadas na representação sindical dos petroleiros. Primeiro, há três anos, um grupo dissidente conseguiu atrair seis dos 17 sindicatos do setor para uma central alternativa, a Frente Nacional dos Petroleiros. Em seguida, já este ano, as três vagas do Conselho Deliberativo da Petros (fundo de pensão da Petrobras) indicadas por funcionários foram preenchidas por representantes da oposição.

Como o conselho é composto por seis membros, sendo os três restantes indicados pela Petrobras, tudo indica que o presidente do colegiado, Wilson Santarosa, terá de exercer pela primeira vez o direito ao voto de minerva para aprovar alguma decisão no segundo maior fundo de pensão do país.

As fraturas no campo sindical teriam começado quando o grupo de Santarosa, que se notabilizou nos anos 90 por enfrentar a reforma da Previdência Social promovida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, passou a defender, no poder, mudanças nas regras de aposentadoria que tanto havia combatido.

A principal delas foi a repactuação do regime de aposentadorias da Petrobras, que passou de ¿benefício definido¿ para ¿contribuição definida¿.

A troca representa uma profunda transformação na relação do fundo de pensão da estatal com os seus participantes. Se, até então, os funcionários da ativa contribuíam sabendo exatamente quanto passariam a receber após a aposentadoria, o novo regime só define, agora, o valor da contribuição mensal.

No fim da carreira ativa, o montante recolhido apontará o valor exato da contribuição.

Mudança em aposentadoria

O racha de 2005 na base petroleira teria acontecido depois que os dirigentes da FUP (grupo cutista, de Santarosa) incluíram a repactuação como resolução de congresso.

Baseado na corrente sindical majoritária ArtiSind (Articulação Sindical), do PT, o grupo de Santarosa começou a ser construído nos anos 80 e fortaleceu suas raízes, a partir de 1995, com a organização dos ConFUPs (Congressos da Federação Única dos Petroleiros) e da greve que chegou a parar a estatal por 32 dias.

Para o professor Marco Aurelio Santana, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, o fato de existir uma liderança sindical de esquerda no poder (no caso, o presidente Lula) provocou muitos dilemas na relação entre Estado, partido, sindicato e classe.

¿ Em um extremo, alguns dizem que isso fez com que setores sindicais ficassem mais próximos de Lula, em busca de defender um determinado projeto, e que vêm conseguindo proteger os trabalhadores e avançar em questões sociais. No outro extremo, mais crítico, isso levou ao que chamam de atrelamento, cooptação e domesticação dos movimentos ¿ analisa.

Os trabalhadores ligados à oposição buscam agora outros meios de representação. O SindipetroCaxias rejeitou a FUP como negociadora de suas reivindicações em 2006 e exige a legitimação da Frente Nacional dos Petroleiros. Considerada cada vez mais ¿governista¿, a FUP vai perdendo sindicatos. Hoje, FUP e FNP os disputam.