Título: Gráfica do Senado abriga 1.100 funcionários
Autor: Alvarez,Regina
Fonte: O Globo, 05/07/2009, O País, p. 9

Com 90% da capacidade ociosa, ainda é dirigida por seguidores do ex-diretor-geral Agaciel

Regina Alvarez

BRASÍLIA. Berço e reduto do ex-diretor Agaciel Maia, a Secretaria Especial de Editoração e Publicações ¿ a famosa gráfica do Senado ¿ tem uma superestrutura que permanece praticamente intocada, mesmo com os escândalos e as denúncias de desvio de verbas que assombram a Casa nos últimos meses.

Com 600 funcionários efetivos e pelo menos 500 terceirizados, a gráfica tem equipamentos de última geração e orçamento de R$ 45 milhões só para custeio e investimentos em 2009, mas a produção é pequena e o conteúdo, discutível.

Especialistas do setor estimam que a gráfica está com 90% de sua capacidade ociosa, mas isso não impede que o órgão abrigue cinco diretores e 75 chefes de serviço.

Agaciel começou sua carreira no Senado na gráfica, em 1977, e chegou ao posto de diretor montando cuidadosamente um séquito de colaboradores, que mais tarde se espalhariam por outras áreas-chaves da Casa. Na semana passada, o novo diretorgeral, Haroldo Tajra, substituiu o então diretor da gráfica Júlio Pedrosa por Florian Madruga, mas nenhum outro posto foi alterado até o momento. Madruga estava na diretoria-geral adjunta, mas sua origem também é a gráfica, onde ocupou vários postos, entre eles o de chefe de gabinete do ex-diretor Pedrosa.

A gráfica funciona em quatro turnos de seis horas. São quatro subsecretarias e 31 setores, sendo que alguns têm até quatro chefes de serviço, um para cada turno. A maior gráfica de Brasília, a Coronário Editora Gráfica, tem 58 funcionários e uma produção dez vezes maior.

¿ O que produzimos num mês, o Senado faz num ano ¿ afirma o diretor-comercial da Coronário, Edson Norton.

A gráfica do Senado é responsável pela publicação dos três diários oficiais do Legislativo ¿ do Senado, da Câmara e do Congresso, mas a tiragem diária é pequena, de apenas 150 exemplares em cada publicação, já que o acesso principal a esses diários é pela internet. Desde 1988, editou dois milhões de exemplares da Constituição federal, sobre a qual tem direitos exclusivos. Cada exemplar é vendido ao público pelo preço subsidiado de R$ 10.

O Jornal do Senado, com 10 mil exemplares diários, é também de responsabilidade da gráfica, além de uma revista trimestral com informações do Legislativo. Ainda são editados livros de interesse dos senadores ¿ que têm uma cota individual de R$ 8,5 mil para uso diverso: discursos, projetos ou qualquer conteúdo à sua escolha. A gráfica editou, por exemplo, uma rica publicação sobre a arte sacra em prédios e museus de Alagoas, a pedido do ex-presidente da Casa Renan Calheiros.

Há, ainda, as obras aprovadas pelo Conselho Editorial, sem apelo comercial, mas de interesse de historiadores e pesquisadores, segundo avaliação dos conselheiros. ¿O Abolicionismo¿, de Joaquim Nabuco, é um exemplo. Mas, nesse conceito, também foram incluídas obras do atual presidente, José Sarney, uma delas sobre o Amapá.

Setor privado não tem equipamentos tão modernos

Brasília tem 500 gráficas, sendo 30 de médio e grande porte.

Segundo empresários do setor, a capacidade da gráfica do Senado, com o número de funcionários e os equipamentos de última geração que tem, é superior à do setor privado. Um dos equipamentos mais modernos imprime em oito cores e tem capacidade de produzir 15 mil cópias por hora. Esse modelo de impressora só existe em grandes gráficas do país. Em Brasília, em apenas três.

¿ Temos 30 gráficas de muito bom nível, mas seguramente a gráfica do Senado supera a capacidade do nosso parque privado.

Também tem capacidade superior à da maioria dos jornais locais ¿ diz Antonio Eustáquio de Oliveira, presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Distrito Federal.

Ex-funcionário do Senado, o atual proprietário da Gráfica Goethe, Walter Ribeiro, diz que a estrutura da gráfica do Legislativo é inchada e acima das necessidades do serviço.

¿ A maioria é apadrinhada de poderosos. Poucos trabalham de verdade ¿ diz ele.