Título: No semiárido, sequer há torneiras
Autor: Weber, Demétrio; Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 06/07/2009, O País, p. 4

Numa das escolas, água para a merenda chega de cacimba, levada por uma vizinha

IVONETE, MESMO grávida, recebe R$200 da prefeitura de Buenos Aires (PE) para levar água à escola Nossa Senhora de Fátima

BUENOS AIRES (PE). Escola sem água não chega a ser uma realidade incomum no Nordeste. E não é nem preciso ir muito longe. O problema pode ser observado não só em cidades como Alagoinha e Buíque (no agreste) ou Santa Filomena (no sertão), como também naquelas que não ficam no semiárido. É o caso de Buenos Aires, na Zona da Mata, onde se concentra a agroindústria açucareira. Muito verde, a região é marcada por boas temporadas chuvosas.

Mas nesse município, a 80 quilômetros de Recife, quase todos os colégios não possuem água encanada. Algumas não têm nem torneira, como é o caso da escola municipal Nossa Senhora de Fátima, que funciona no engenho Novo Mundo, a dez quilômetros do centro da cidade. Com apenas três salas, a escola tem a água de cacimba garantida por uma vizinha, Ivonete Maria Gomes, de 36 anos. Com o filho Eduardo,14, e a ajuda da jumenta Rosely, ela anda meia hora para buscar quatro ¿tambores ¿ para abastecer o colégio. São quatro fornecimentos por semana, pelos quais Ivonete recebe R$200 mensais, como prestadora de serviço da prefeitura.

Nem mesmo a gravidez de nove meses tem impedido a lavradora de fazer o roteiro diariamente. Além de abastecer a escola, vizinha a sua casa, ela também precisa da água da cacimba para banhar, alimentar, matar a sede e lavar roupa dos oito filhos. Para a merendeira da escola, Maria José Dias de Santana, o trabalho seria complicado sem a ajuda de Ivonete.

¿ Água é tudo na vida. Preciso dela para lavar a escola e preparar a merenda.