Título: Aniversário de 15 anos do Real gera troca de farpas entre Mercadante e FH
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 08/07/2009, Economia, p. 16
Petista faz "mea culpa" por crítica ao plano e diz que Lula consolidou estabilidade
Maria Lima
BRASÍLIA. A paternidade do Real, que completou 15 anos há uma semana, é da era Itamar Franco/Fernando Henrique Cardoso (1992-2002). Mas, ao menos para o senador petista Aloizio Mercadante (SP), ainda está sob disputa quem fez melhor uso dos louros colhidos pelo plano nesta década e meia. Em sessão solene realizada ontem pelo Congresso para comemorar o aniversário do plano econômico, Mercadante defendeu que o governo Luiz Inácio Lula da Silva, iniciado em 2003, representa uma segunda e determinante fase para a estabilidade e a consolidação da economia brasileira.
Foi a senha para o início de uma troca de farpas entre o petista e vários tucanos presentes à solenidade, entre eles o próprio ex-presidente Fernando Henrique. Mercadante fez um mea culpa ao admitir que durante o governo FH era um crítico duro, que fazia questionamentos que hoje ainda sustenta mas tantos outros improcedentes. O petista cobrou, porém, o reconhecimento do papel do governo Lula nos 15 anos de Real.
- Estou reconhecendo, é difícil, que na oposição não fomos os críticos mais equilibrados, como não são hoje os nossos críticos - disse Mercadante. - Esses 15 anos do Real têm que ser celebrados juntos pelo Lula e pelo Fernando Henrique. Faz falta a presença do presidente Lula hoje aqui com Fernando Henrique. Vocês dois deveriam conversar mais.
No Congresso, FH critica PAC e política fiscal de Lula
Em resposta a Mercadante, Fernando Henrique deu uma estocada em Lula:
- Talvez, senador Mercadante, as suas palavras tenham sentido. Mas não devem ser ditas a mim, devem ser ditas a quem pode, e quem pode não sou eu. Quem pode, quem pode dizer "vamos juntos" não sou eu. Estou por baixo. Eu sempre que estive por cima tentei e não consegui - respondeu Fernando Henrique, deixando Mercadante desconcertado.
Em sua passagem pelo Congresso, FH aproveitou e fez críticas ao PAC e à política fiscal de Lula, e não perdeu a chance de ironizar a previsão oficial inicial de crescimento de 5% em 2009, que já caiu para 1%. Depois da solenidade, FH reclamou do fato de Lula nunca ter dito uma palavra de reconhecimento sobre os avanços proporcionados pelo Real em seu governo:
- Eu seria injusto com ele (Lula) se dissesse que ele está apenas surfando no Real. Não, ele usou e não reconheceu. Até agora não disse uma palavra de reconhecimento dos benefícios que o Real e tudo que fizemos no meu governo trouxeram para o país. Mas ele fez também a parte dele.
Solenidade reúne "pais" do Plano Real no Senado
Aécio, em seu discurso, contemporizou:
- O que eu gostaria de dizer é que tenho absoluta convicção, senador Mercadante, que, dentro de algum tempo, fora das intempéries das eleições, das paixões que as disputas sempre trazem, os analistas políticos, os cientistas políticos haverão de analisar e compreender o período que se inicia com Itamar Franco, passando pelos oito anos do presidente Fernando Henrique e, depois, pelos oito anos do presidente Lula, como um só período de continuidade na vida econômica do país.
Na solenidade no plenário do Senado, os tucanos se revezaram para destacar as conquistas do Plano Real - com o fim de um período de hiperinflação com índices anuais que chegaram a 5.150% - e o legado deixado ao governo Lula. Estiveram presentes alguns dos "pais" do plano, como os economistas Edmar Bacha, Gustavo Franco, Winston Fritsch e o ex-ministro da Fazenda e embaixador Rubens Ricupero.
- O Real teve êxito porque mostrou à população com honestidade qual era o problema e a solução que o governo estava propondo - analisou Ricupero.
Fernando Henrique admitiu ainda que, mesmo sem uma carreira política voltada para o Palácio do Planalto até então, o povo ficou tão aliviado com o fim da inflação que o elegeu presidente. Ele foi ministro da Fazenda de Itamar Franco, gestão durante a qual o Real foi desenhado.