Título: Ossada de guerrilheiro do Araguaia é identificada
Autor: Carvalho, Jailton de; Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 08/07/2009, O País, p. 9

Restos mortais de Bergson Gurjão Farias, morto em 1972, estavam guardados em secretaria desde 1996

Jailton de Carvalho e Isabela Martin

BRASÍLIA e FORTALEZA. O ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, anunciou ontem que foi identificada a ossada de Bergson Gurjão Farias, militante do PCdoB morto na Guerrilha do Araguaia em 1972 e, desde então, considerado desaparecido. A identificação tem como base teste de DNA feito pelo Laboratório Genomic em amostras de ossada que estavam guardadas na secretaria desde 1996. Segundo Vannuchi, a descoberta só foi possível graças aos novos avanços da tecnologia em exames de DNA. Outras dez ossadas, armazenadas na secretaria, também serão submetidas a testes similares.

Antes de divulgar o resultado, Vannuchi conversou por telefone com Tânia, irmã de Bergson, que mora em Fortaleza. A informação deixou a famÍlia do guerrilheiro aliviada. Segundo o ministro, Tânia disse que a mãe, Luiza Gurjão Farias, de 94 anos, tinha o sonho de só morrer depois de enterrar os restos mortais do filho. Bergson foi o primeiro desaparecido da Guerrilha do Araguaia, segundo relato do colunista Elio Gaspari no livro "A Ditadura Escancarada".

- A sensação (da família) é de profundo alívio. O momento do funeral é sagrado - disse o ministro.

Em Fortaleza, Tânia contou que a mãe ficou trêmula e chorou "como há muito não fazia". Até o fim da tarde, a família ainda não havia decidido sobre homenagens ou realização do funeral.

Dez ossadas ainda precisam de identificação

Bergson tem outros dois irmãos, Ielnia, que mora nos Estados Unidos, e Gessiner Júnior, que reside em Brasília. O pai, Gessiner Gurjão Farias, faleceu nos anos 1990.

Bergson teria completado 62 anos em maio passado. Estudante de Química na Universidade Federal do Ceará, foi expulso em 1968 por envolvimento em movimentos estudantis. Em 1967, era vice-presidente do Diretório Central dos Estudante. Foi morto às vésperas de completar 25 anos, no dia 8 de maio de 1972. Seu corpo foi levado para Xambioá, e pendurado em uma árvore, com a cabeça para baixo.

A Secretaria de Direitos Humanos mantinha sob sua guarda 12 ossadas recolhidas no Araguaia desde 1996. Dessas, duas já foram identificadas, a de Bergson e a de Maria Lúcia Petit da Silva, também morta em 1972. Agora restam dez ossadas para serem identificadas. O número pode aumentar ainda mais com as novas buscas que tropas do Exército iniciam hoje na região, por ordem da Justiça Federal.

A identificação da ossada a partir de uma técnica mais apurada de exame de DNA ocorreu depois que, no início de 2008, o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), logo ao assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, se deparou com várias ossadas num armário.

Deputado denunciou descaso com ossadas

O deputado denunciou o descaso com os restos mortais e repassou o material para a Secretaria. Há dois meses, num discurso em plenário, Mattos disse que uma ossada há anos em poder da Secretaria de Direitos Humanos seria de Bergson. O deputado fez as declarações com base na análise de um perito que contratara para examinar amostras dos ossos.

Depois das críticas do deputado, no dia 6 de junho, Vannuchi encaminhou amostras da ossada ao Laboratório Genomic. Na segunda feira, o laboratório enviou o resultado do teste confirmando a identificação.