Título: Resistência dos agricultores
Autor: Oliveto, Paloma
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2009, Brasil, p. 13

Prazo para retirada de não índios da reserva em Roraima será definido na quarta-feira, mas arrozeiros dizem que só sairão depois da colheita.

¿Ordem judicial é para ser cumprida. Notadamente, uma ordem da suprema Corte do país¿ Carlos Ayres Britto, ministro do STF. Vencidos no Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a retirada dos não índios da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, os donos de fazendas na região se negam a sair da área enquanto não terminarem a colheita do arroz ¿ o que só deve ocorrer em maio ¿ e retirarem as 15 mil cabeças de gado das propriedades. O líder dos rizicultores, Paulo César Quartiero, afirmou ontem que os produtores vão respeitar a decisão da Corte e abandonar a reserva, mas somente depois da safra, e não quando a Justiça determinar. ¿Vamos fazer o quê? Eu estou colhendo e vou continuar. Com essa crise econômica, nosso bravo país vai deixar quilos e quilos de alimentos estragarem? Um país famélico como o Brasil?¿, questiona.

Por 10 votos a 1, o STF decidiu que a reserva, de 1,7 milhão de hectares, só pode ser ocupada por índios. Ontem, o ministro-relator do processo, Carlos Ayres Britto, deveria ter anunciado a data da desintrusão, que será supervisionada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A resolução, porém, foi adiada para a próxima quarta-feira. Ayres Britto conversou com o ministro da Justiça, Tarso Genro, que pediu tempo para levantar dados mais precisos sobre a situação na reserva. ¿As providências serão tomadas passo a passo, após o levantamento da situação real, para que nada seja feito aleatoriamente¿, explicou.

Preocupação Ayres Britto preferiu não comentar ontem a decisão dos fazendeiros de só deixarem a área depois da colheita, mas, na quinta-feira, depois de encerrado o julgamento, disse que era preocupante o fato de alguns fazendeiros poderem resistir à decisão. ¿Ordem judicial é para ser cumprida. Notadamente, uma ordem da suprema Corte do país¿, declarou.

Dono de uma propriedade de 10 mil hectares na reserva indígena, Quartiero argumenta que os índios ficarão abandonados à própria sorte, sem condições de produzir, já que não dispõem de maquinário agrícola. O agricultor reclama que a União ofereceu a ele R$ 2,6 milhões ¿ dos quais R$ 1 milhão já foi depositado ¿ como indenização pelas benfeitorias que fez nas terras, mas argumenta que o valor real é bem maior. ¿A fazenda foi avaliada em R$ 53 milhões.¿

A decisão do Supremo desagradou também a uma parcela da população indígena. A Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima (Sodiur) diz que muitos índios estão preocupados com seus empregos. ¿Queremos o desenvolvimento econômico. O índio não é mais aquele que só vive na mata, de caça e pesca. Estamos preocupados com a economia do estado. Se não tivermos condições de trabalhar, o que vamos fazer?¿, defende o líder macuxi Abel Barbosa.

Já Iranilde Barbosa, coordenadora do movimento de mulheres indígenas de Roraima, discorda de Abel. Para ela, a permanência dos fazendeiros seria ruim. ¿Os índios acabariam indo para as cidades, onde só teriam espaço nas periferias¿, opina.