Título: Procura-se autor de maquiagem de currículo
Autor: Menezes, Maiá; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 08/07/2009, O País, p. 5

Dilma diz que não foi ela quem incluiu informações erradas sobre mestrado e doutorado no Lattes Maiá Menezes e Catarina Alencastro

RIO e BRASÍLIA. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou ontem que não foi ela quem pôs as informações "maquiadas" sobre seu currículo na Plataforma Lattes, do CNPq, e no site da Casa Civil - corrigidas após as denúncias de que estavam erradas. Dilma reconheceu que não concluiu mestrado nem doutorado, dizendo, porém, que fez todos os créditos das disciplinas. O que faltou, segundo a ministra, foi encontrar tempo para concluir as teses. Mas não explicou por que só tirou da Plataforma Lattes e do site oficial da Casa Civil as informações de que concluíra o mestrado e ainda fazia doutorado após os erros terem sido denunciados.

Para a inclusão de informações no Lattes, o usuário dispõe de senha. "O CNPq não será responsável por qualquer perda que possa ocorrer como consequência do uso não-autorizado por terceiros de sua senha, com ou sem seu conhecimento", informa o site da plataforma. Para incluir as informações, o usuário precisa informar seu CPF.

Dilma disse que não concluiu os cursos porque assumiu cargos públicos.

- Na Lattes tem um erro: dizendo que eu fiz Ciências Socias. Nunca coloquei isso em currículo nenhum. Inclusive estou levantando de onde saiu Ciências Sociais. Fiz economia. E um erro fundamental é que aquela ficha é de 2000... Em 2000 eu era secretária de Minas e Energia. Não tinha mais nenhuma vida acadêmica. Aquele documento, com aquela informação, asseguro que não fui eu que preenchi - disse Dilma, que admitiu: - Tem lá um equívoco: a parte relativa ao mestrado está errada.

A ministra disse que se esforçou para concluir os cursos:

- Eu mudei para lá (Campinas), morei, tenho colegas. O Luciano Coutinho (presidente do BNDES) estava presente como... ele fazia o controle da prova. A minha filha tinha 2 anos, fiz um baita esforço - disse a ministra, após assinatura de contrato de financiamento da CEF para obras do PAC no Rio.

Em discurso, o governador Sérgio Cabral elogiou Dilma, afirmando que ela teria qualificação para ser executiva de qualquer empresa.

O CNPq disse ontem que não há como saber se o currículo da ministra com informações falsas foi enviado por ela ou por outra pessoa. E que, mesmo que tenha sido Dilma a prestar as informações, ela não poderia ser responsabilizada por falso testemunho porque não havia assinado o termo que apresenta as responsabilidades sobre os dados prestados. O coordenador de informática do CNPq, Geraldo Sorte, informou que o documento da ministra foi enviado ao órgão no dia 26/05/2000, quando o site ainda não tinha formulado o termo de compromisso.

Segundo Sorte, o CNPq trabalha com duas possibilidades: erro no preenchimento do documento e que não tenha sido Dilma a enviar os dados:

- A gente tem informações de que algumas secretárias preenchem currículo por outra pessoa. Eu estou entendendo que, se ela (Dilma) disse que não foi ela, não foi. A gente tem que acreditar que as pessoas falam a verdade.

As alterações foram feitas nos últimos dia 4 e 6, após a publicação de reportagens sobre o erro. Sorte informou que as mudanças foram feitas em computador da Presidência da República e que houve pedido de segunda via da senha usada para acessar os dados.

Sobre as sessões de radioterapia, que começarão no fim do mês, Dilma informou que, por cerca de 30 dias, ficará de segunda a quarta-feira em Brasília e de quinta-feira a domingo em São Paulo.