Título: Aqui não é como se a gente fosse cachorro, diz paciente
Autor: Weber, Demétrio; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 13/07/2009, O País, p. 3

Mais agilidade e menor custo são marcas da gestão de organizações sociais em São Paulo

SÃO PAULO. A doméstica Alessandra de Oliveira Silva não pensou duas vezes antes de decidir o local onde nasceria Arthur, seu segundo filho.

Moradora da Vila Campo Grande, na periferia de São Paulo, ela optou por um parto normal no Hospital Geral de Pedreira, um dos primeiros no estado a ser administrado por uma Organização Social (OS). Assim como ela, moradores da região lotam a unidade em busca de um serviço considerado de excelência, nos padrões do Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde 1998, parte do sistema de saúde no estado de São Paulo ¿ hoje, 33 dos 72 hospitais em funcionamento ¿ passou a ser gerido pelo setor privado, o que tem melhorado o serviço aos usuários, segundo estatísticas do governo.

O último levantamento da Secretaria estadual de Saúde, de 2006, apontou que os hospitais gerenciados por organizações sociais atendem a 25% mais pacientes e gastam 10% menos na comparação com as unidades de administração direta.

¿ Só fiquei tranquila quando engravidei de novo porque sabia que o tratamento aqui seria muito bom.

Aqui não é como se a gente fosse um cachorro ¿ disse Alessandra.

Há anos ela frequenta o Hospital Pedreira, que, em 2009, tem orçamento de R$ 92 milhões.

Aos poucos, o orçamento público começa a ser repartido com as organizações sociais. Os hospitais da administração direta receberam este ano R$ 1,8 bilhão; os que estão sob gestão das OSs, R$ 1,5 bilhão.

¿ Enquanto se demora até seis meses para trocar um tomógrafo quebrado, por exemplo, aqui podemos resolver isso da noite para o dia. E temos mais facilidade para negociar preços ¿ diz o diretor do hospital, Cid Pinheiro.

Embora ainda seja comum encontrar salas de recepção lotadas, unidades hospitalares administradas por OSs vêm apresentando melhorias significativas em relação a atendimento, marcação de consultas e realização de cirurgias.

Desde 2007, unidades de saúde da cidade de São Paulo também passaram às mãos das OSs. Numa análise comparativa dos serviços, as unidades privadas estão na frente. Num dos hospitais municipais, o Menino Jesus, foram registradas, de janeiro a abril de 2008, 13.634 internações e 1.083 cirurgias. No mesmo período deste ano, os números saltaram para 16.224 internações e 1.306 cirurgias.

Na rede estadual, a decisão em entregar hospitais para as OSs foi tomada no governo Mário Covas (PSDB). Diferentemente do que acontece na rede municipal, o governo do estado só pode administrar hospitais por meio de organizações sociais. Quinze obras inacabadas só saíram do papel porque OSs assumiram o controle.

¿ A nossa principal meta é fortalecer o SUS ¿ diz o secretário municipal de Saúde, Januário Montone, rebatendo a tese de que o modelo acaba com a transparência do serviço público, já que contratação de funcionários e compras de equipamentos não dependem de licitações.

Autoridades avaliam que o serviço melhora porque hospitais geridos por OSs não dependem de funcionários públicos. Enquanto o salário pago a um médico na administração direta é, em média, de R$ 30 por hora, as OSs desembolsam até R$ 60.

¿ Hoje, é inegável que o modelo é superior ao oferecido pela rede pública ¿ diz o coordenador de OSs do governo paulista, Márcio Cidade.

Um repórter do GLOBO visitou o Hospital Geral de Pedreira. Além das instalações, chamou a atenção o atendimento dos funcionários. A infra-estrutura e o número de médicos de plantão também parecem superiores em relação ao serviço público.

Segundo o diretor do hospital, Cid Pinheiro, funcionários celetistas são destacados principalmente para departamento de grande demanda, como o Pronto-Socorro.

¿ O PS é um local onde os funcionários e os médicos não podem ter um ritmo lento ¿ diz Pinheiro.