Título: Oposição deve apoiar Collor para presidir CPI
Autor: Lima, Maria; Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 13/07/2009, O País, p. 4

Conselho de Ética e Comissão que investigará Petrobras serão instalados amanhã, com foco nas denúncias contra Sarney

BRASÍLIA. O presidente Lula, a base governista e, principalmente, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), estão contando as horas para o recesso parlamentar que começa nesta sexta-feira e poderia esfriar a crise no Senado. Mas, até lá, terão que jogar pesado para assumir o comando da CPI da Petrobras e do Conselho de Ética, frentes onde a oposição se articula para tentar levar adiante alguma investigação sobre os sucessivos escândalos envolvendo a estatal e fundações, parentes e empresas ligadas a Sarney.

A estratégia contra a blindagem governista é apoiar um presidente para a CPI que, mesmo da base, não seja ligado ao Planalto. A alternativa para disputar com o petista João Pedro (AM) é o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL).

¿ PMDB e PT são partidos irmãos.

Como a relatoria da CPI está encaminhada para Romero Jucá (PMDB-RR), pode ser que a presidência, que cabe ao PMDB, fique com o PT ¿ afirmou o líder do PTB, Gim Argello (DF) .

Estratégia é encontrar nome que ¿mostre serviço¿ Com o fogo cerrado sobre Sarney, interessa também ao PMDB eleger um presidente mais independente. A oposição conta com a divisão da base. E o governo pode ser surpreendido com a entrega do comando da CPI a Collor ou a outro que queira mostrar serviço aprofundando as investigações.

¿ Quem disse que a base terá um só candidato? Pode ter outro que irá bater chapa com ele. Essa é a nossa chance, de apoiar o candidato que não faça a linha mais escrachada do governo ¿ disse o líder do DEM, José Agripino Maia (RN).

Haverá várias reuniões até amanhã, quando serão instalados CPI e Conselho. A denúncia de que Sarney possui uma conta não declarada no exterior, gerida pelo ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, como revelou a revista ¿Veja¿, complica o senador.

A oposição aguarda pronunciamento do Banco Central sobre a suposta conta de Sarney no exterior, cujo saldo teria R$ 1,7 milhão (em valores de 1999) não declarados à Receita Federal.

No sábado, em nota, Sarney disse que pediria à Procuradoria Geral da República que investigasse a existência de contas, em seu nome, no exterior. As referências à conta, segundo ¿Veja¿, se resumem à sigla ¿JS¿, que remete a um arquivo com dados e telefones de assessores de Sarney em Brasília e no Amapá.

A oposição assinará ainda representação pedindo investigação paralela das denúncias por Ministério Público, Tribunal de Contas da União, Banco Central e Receita. O líder tucano, Arthur Virgílio (AM), disse que se o governo tentar usar a maioria para impedir investigações na CPI, a estratégia não funcionará: ¿ O mensalão é um exemplo de que valem mais os fatos do que a maioria.

Virgílio lembra que Sarney afirmou no Senado que não tinha responsabilidade administrativa sobre a Fundação Sarney.

¿ Se ficar comprovado que mentiu, é quebra de decoro.

O ministro José Múcio (Relações Institucionais) disse que o governo está preparado para esclarecer o que for preciso: ¿ Sobre Sarney, estamos solidários. Há uma ação política por trás disso, e precisamos pensar no país.