Título: Camponês ajuda Exército em buscas no Araguaia
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 13/07/2009, O País, p. 5

Ex-guia de militares, na época da guerrilha, mateiro indica locais onde estariam ossadas de rebeldes mortos

SÃO DOMINGOS DO ARAGUAIA (PA). Um camponês de 72 anos que serviu de guia para os militares na selva revelou ontem três locais que, segundo ele, escondem ossadas de desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia. Das áreas apontadas por José Maria Alves da Silva, o Zé Catingueiro, duas não estão no roteiro oficial das buscas ¿ estabelecido pelo Ministério da Defesa e percorrido desde a semana passada por uma equipe liderada pelo Exército. Ele prometeu levar o grupo aos locais, que esconderiam os restos mortais de sete ou oito guerrilheiros.

O mateiro disse ter visto covas de quatro ou cinco combatentes num ponto conhecido como Clareira do Cabo Rosa, em Brejo Grande (PA), que não está na lista dos militares. Um deles seria de Maurício Grabois, o Mário, comandante da guerrilha. Ele foi morto na véspera do Natal de 1973, e o paradeiro dos seus restos mortais ainda é desconhecido. Catingueiro disse ter passado pelo local oito dias depois do enterro clandestino: ¿ Quando nós passemo lá, só tava o pé dum do lado de fora.

Se ficou e o bicho não comeu, nós pode encontrar (sic).

Outra área apontada pelo mateiro é Tabocão, na zona rural de São Domingos do Araguaia.

Lá estariam enterrados Paulo Mendes Rodrigues, o Paulo, desaparecido em dezembro de 1973. O lugar tampouco aparece no roteiro oficial das buscas.

Catingueiro ainda apontou a região de Caçador, também em São Domingos do Araguaia, que foi visitada ontem pela equipe. Segundo o mateiro, o local esconderia ossadas de três guerrilheiros mortos em outubro de 1973: André Grabois, o Zé Carlos; João Gualberto Calatroni, o Zebão; e Antônio Alfredo de Lima, o Alfredo.

O camponês disse ter testemunhado a morte em combate de Nelson Lima Piauhy Dourado, o Nelito, quando guiava um grupo de 13 soldados. O corpo teria sido levado de helicóptero para a Fazenda Bacaba, apontada como cemitério clandestino e já visitada pela expedição: ¿ Nós ficamo (sic) no mato e um helicóptero veio buscar.

Depois trouxe para Bacaba.

Ontem, chegou ao local da guerrilha a aposentada Maria Mercês Castro, irmã de Antonio Theodoro de Castro, o Raul, que teria morrido entre 1973 e 1974.

Chorando muito, disse que a ossada do irmão estaria num local chamado Fazenda Matrinchã.

Ela seria recebida à noite pelo comandante da expedição, general Mário Lúcio Alves de Araújo. Por decisão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, os parentes dos desaparecidos não participam da expedição