Título: Sarney é alvo no Conselho e na CPI
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 11/07/2009, O País, p. 3

Oposição é minoria contra tropa de choque, mas tentará constranger presidente do Senado

Certa das dificuldades para investigar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), na CPI da Petrobras, a oposição vai apostar as fichas no Conselho de Ética para, pelo menos, tentar constranger o grupo governista ao encaminhar pedido de abertura de processo por quebra de decoro contra o senador. No novo Conselho, que será instalado terça-feira, juntamente com a CPI, o governo tem ampla maioria - dez votos a 5 - e montou uma tropa de choque para defender Sarney, como fizera com o atual líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), no passado. Com a instalação, mesmo que o relator seja da ala governista, terá que dizer se Sarney deve se afastar ou não do cargo, e submeter seu voto ao plenário do Conselho.

Será a primeira cena de constrangimento, que a oposição espera que aconteça ainda semana que vem, antes do recesso. Mas que os governistas pretendem protelar para agosto.

- Vamos conseguir investigar. Vamos expor e divulgar os resultados da investigação à sociedade e encaminhar ao Ministério Público. Mas, diante da maioria da base, será muito difícil aprovar qualquer coisa contra Sarney - admite ACM Júnior (DEM-BA), suplente no Conselho.

Amigos de Renan voltam à cena

A tropa governista é a mesma que não poupou esforços para salvar Renan, então presidente do Senado, da cassação. Almeida Lima (PSB-SE), por exemplo, foi indicado para integrar um trio de relatores, mas não concordou com o pedido de cassação de Renan. Seu voto em separado pedindo a absolvição foi aprovado no plenário. Wellington Salgado (PMDB-MG) foi protagonista de inúmeros embates com a oposição. E o recém-chegado ao grupo Gim Argello (PTB-DF), que chegou ao Senado como suplente de Joaquim Roriz e escapou de ser processado na Casa por envolvimento em desvios de recursos do Banco Regional de Brasília (BrB), é a mais constante companhia de Renan.

Esse grupo tentará derrubar os pedidos de investigação contra Sarney, alegando que as supostas irregularidades foram cometidas antes de ele assumir o cargo.

- Além de os atos secretos de 14 anos terem sido anteriores ao mandato do presidente Sarney, ele não pode ser responsabilizado sozinho. A responsabilidade é da Mesa. Essa representação do PSOL é improcedente - disse o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), suplente no Conselho.

Nos bastidores, os governistas não descartam entrar com ações contra o líder tucano Arthur Virgílio (AM) - suplente do Conselho e o principal crítico de Sarney - por ele ter empregado um funcionário fantasma por 14 meses. Ontem, Virgílio formalizou, na Procuradoria Geral da República, pedido de investigação de denúncia de desvio de recursos da Petrobras pela Fundação José Sarney. O tucano pede abertura de inquérito policial, alegando que há suspeita de crime de peculato e formação de quadrilha. E protocolou uma segunda denúncia contra Sarney no Conselho de Ética.

Este será um fim de semana de negociação. Para a presidência e a relatoria da CPI, antes da denúncia envolvendo a Fundação José Sarney com a estatal, os nomes prováveis eram o do petista João Pedro (AM) para a presidência, e o de Romero Jucá (PMDB-RR) para a relatoria. Renan nunca gostou dessas alternativas e, depois que a bancada do PT defendeu o afastamento de Sarney, a indicação de João Pedro fica ainda mais frágil. Uma alternativa seria Paulo Duque (PMDB-RJ) para presidente e Ideli Salvatti (PT-SC) para a relatoria da CPI. Como no Conselho, os governistas também são maioria na CPI da Petrobras. Dos 11 titulares, oito são da base governista.

Para a presidência do Conselho de Ética, os dois nomes mais prováveis são Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e Paulo Duque.

Na Itália, onde participou ontem da reunião de cúpula do G-8, o presidente Lula disse que os senadores são "inquadráveis" (sic). Isto é, segundo ele, não podem ser enquadrados pelo presidente da República. Lula respondia a uma pergunta de uma jornalista, que quis saber o que ele achava de Sarney ter decidido instalar a CPI da Petrobras e do fato de a bancada do PT ter defendido seu afastamento.

- Acho engraçado a ideia de que o presidente da República enquadra o Senado. Os senadores são inquadráveis (sic). Eles têm mandato de 8 anos, e eu só tenho de 4 - disse.

* Enviada especial