Título: G-8 admite necessidade de ampliar sua representação com emergentes
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 11/07/2009, Economia, p. 27

Reunião de cúpula chega ao fim propondo "parceria estável" com o G-5

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ÁQUILA, Itália. A reunião de cúpula do G-8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia), acabou ontem com um reconhecimento formal: não dá mais para os ricos decidirem os rumos do mundo sem os emergentes. O documento final do encontro sela uma "parceria estável e estruturada" com cinco países em desenvolvimento, que formam o G-5: Brasil, China, Índia, México e África do Sul. Para alguns, o documento equivale à morte do G-8.

"Os líderes reconhecem que suas ações são fortalecidas ao se engajarem com as maiores economias emergentes. Em Áquila, os líderes decidiram avançar juntos num quadro de uma parceria estável e estruturada", diz o comunicado, citando como parceiros Brasil, China, Índia, México e África do Sul.

Reunidos em Áquila, cidade destruída por um terremoto em abril, a 35ª cúpula do G-8 foi marcada por uma proliferação de "Gs". A tal ponto que o jornal "New York Times" cunhou uma fórmula matemática, para ilustrar o malabarismo que é preciso para decidir hoje os rumos do mundo: G-8 + G-5 + 1 + 5 - 1. Traduzindo: Áquila foi a soma de sete países ricos mais a Rússia (que juntos formam o G-8), mais cinco emergentes (G-5), mais um convidado especial (Egito), mais cinco organizações internacionais, subtraindo o líder da China, Hu Jintao, que teve que voltar às pressas por causa de confrontos étnicos no país.

Se o G-8 murchou, que grupo assumirá a liderança: G-14 ou G-20? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefere o G-20: com mais países, há "mais chance de evitar erro nas decisões". Para discutir economia, disse Lula , "é preciso que haja a manutenção do G-20" até que toda a discussão da recuperação econômica seja concluída.

- Se eu pudesse escolher entre G-14 e G-20, ficaria com o G-20 que tem mais representação.

Obama: recuperação da economia ainda está longe

Lula reconheceu, entretanto, que "é quase impossível evitar que as pessoas se reúnam", isto é, que o G-8, simplesmente, seja extinto.

- Pode continuar reunindo o G-8. Vamos continuar reunindo o G-5, não tem problema. Mas é preciso valorizar o G-20.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, defendeu anteontem, com apoio de Lula, um G-14, referindo-se aos 14 países que participaram da reunião de Áquila (que além de G-8 e G-5 teve ainda o Egito, único representante árabe). E disse ao presidente Lula que, em 2012, quando a França assumirá a presidência do G-8, ele não fará nenhuma distinção entre os países do G-8 e os emergentes do G-5:

- Não nos parece razoável discutir as grandes questões internacionais sem a África, sem a América Latina, sem a China, sem a Índia - disse ele.

No G-8, ninguém se opõe abertamente, mas há relutantes, como o Japão. Kazuo Kodama, porta-voz do primeiro-ministro Taro Aso, disse que é mais fácil decidir algo com oito países do que com 20:

- O G-20 tem feito boas coisas. Mas o fato é: os países do G-8 são os principais membros do G-20 - disse.

Para Lula, porém, o fato de os líderes estarem propondo um G-14 já é uma mudança:

- As pessoas estão se dando conta de que não é possível mais discutir qualquer assunto sem levar em conta China, Índia, Brasil, África do Sul, México.

No plano econômico, os líderes viram "sinais de estabilização", mas disseram que a situação econômica "continua incerta com riscos importantes" para a estabilidade. O presidente americano, Barack Obama, disse que a recuperação "ainda está longe", mas que se conseguiu evitar um desastre econômico.

- A ação inconsequente de alguns provocou a recessão que atinge o planeta - disse Obama. - O único caminho à frente é através de um esforço compartilhado e persistente para combater as ameaças a nossa paz, prosperidade e humanidade comum. Nada disso será fácil.

(*) Com agências internacionais