Título: Dirceu atua para livrar Sarney das denúncias
Autor: Lima, Maria; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/07/2009, O País, p. 4

Deputado cassado articula junto à Presidência da República, à bancada do PT no Senado e ao grupo do senador.

BRASÍLIA. Desde que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), transformou-se em protagonista da crise política que assola a instituição há quatro meses, o ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu retomou com força suas articulações políticas no Congresso. Nos bastidores, Dirceu tem atuado em três frentes para livrar Sarney das denúncias: na Presidência da República, na bancada do PT e ainda no grupo político do peemedebista.

Nas últimas semanas, agiu diretamente na estratégia de blindar o presidente do Senado, funcionando como um elo entre o Planalto e Sarney.

Renan: "Do PT, é o que mais conhece esse processo"

Atuou também fortemente entre os senadores do PT para barrar a tendência da bancada de tirar uma posição contrária a Sarney. Na quarta-feira, Dirceu deixou Brasília aliviado, avaliando que a crise política perdia força. Havia conversado com Sarney por telefone.

- Sarney é um outro homem - disse naquele dia.

Foi véspera da divulgação da denúncia de que a Fundação José Sarney desviou para empresas fantasmas pelo menos R$500 mil do R$1,3 milhão recebido da Petrobras, o que voltou a fragilizar a situação do senador.

Na sexta-feira, em seu blog, Dirceu antecipou o tom do governo em relação à nova denúncia: "a simples publicação da matéria no jornal virou prova e condenação contra o presidente Sarney, bem no estilo da lei da suspeição do terror francês, tão a gosto de nossos democratas de plantão". Em seguida, atacou a mídia e a oposição: "Não querem apuração e sim condenação sumária, sem investigação, inquérito e processo".

Segundo aliados, a ação de Dirceu nesse episódio é uma retribuição ao apoio recebido de Sarney durante o escândalo do mensalão, em 2005. Na ocasião, o petista teve o seu mandato de deputado federal cassado pelo plenário da Câmara, depois de ser apontado pela Procuradoria Geral da República como o chefe da quadrilha do esquema.

Nas últimas semanas, Dirceu teve vários encontros em Brasília e não saiu do telefone, prova de que está mais ativo do que nunca nos bastidores da política. Mantém linha direta com o próprio Sarney e com o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).

- Dirceu é prático, objetivo e firme. É, de todos do PT, o que mais conhece esse processo - afirma Renan.

No Planalto, o ex-ministro tem articulado a defesa do presidente do Senado diretamente com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. Atuou para que Lula e Dilma tomassem uma posição pública em defesa de Sarney. Dirceu foi o mentor da estratégia de transformar a crise em luta política, para esvaziar as denúncias contra Sarney.

- Foi a oposição que decidiu politizar esse debate. À medida que o DEM retirou o apoio a Sarney, o objetivo só poderia ser político: o de desestabilizar o governo Lula - disse Dirceu ao GLOBO.

Ele ainda sugeriu medidas para o Senado sair da crise:

- O importante é cumprir as medidas já anunciadas. É preciso fazer a reforma administrativa e dar uma resposta à sociedade.

Na bancada do PT, Dirceu fechou parceria com os senadores Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC) e ajudou a construir o discurso político para amenizar o constrangimento: o de que era preciso manter Sarney para assegurar a governabilidade.

- Dirceu tem tido atuação importante nesse processo - constata Ideli.