Título: Para cúpula petista, apoio a Sarney é forma de manter partido no poder
Autor: Lima, Maria; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/07/2009, O País, p. 4

Ala majoritária da legenda defende projeto Dilma 2010 a qualquer preço

BRASÍLIA. A rebelião ensaiada pela bancada do PT no Senado contra a decisão imposta com mãos de ferro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de apoiar, a qualquer preço, a manutenção do presidente José Sarney (PMDB-AP) no cargo mostrou que é crescente e cada vez mais explícito um sentimento de indignação e revolta em setores do partido. Mas, para Lula e a ala majoritária do PT, não há o dilema de apoiar publicamente Sarney, ainda que enfraquecido e sob uma série de denúncias, desde que consigam se manter no poder no ano que vem com o projeto Dilma 2010.

São cada vez mais frequentes as reuniões de petistas para avaliar os reflexos das decisões do governo e do projeto de eleger a ministra Dilma Rousseff como sucessora de Lula sobre as campanhas eleitorais de deputados, senadores e governadores do PT, ano que vem. Os petistas temem uma desmoralização do partido e muitas dificuldades nas urnas.

Berzoini: o povão não está nem aí para a crise

Já a avaliação da cúpula é a de que, com Sarney fraco ou forte, com perda do patrimônio ético ou não, com menor bancada ou não, o PT não tem salvação sem o PMDB em 2010. A orientação é engolir tantos sapos quantos forem necessários para se manter no poder.

Em reunião da coordenação da bancada na Câmara, semana passada, o deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente do partido, foi taxativo para aprovar um aval à decisão de Lula e Dilma: censurou qualquer manifestação contra o apoio a Sarney e argumentou que o desgaste perante o eleitorado será pequeno e compensado com a manutenção de um aliado no Senado.

- Na reunião, o Berzoini, o (deputado José) Genoino e o (líder do PT, Candido) Vaccarezza censuraram a entrevista do Tião Viana e pediram que todos avalizassem a posição de Lula e Dilma em defesa do Sarney. Berzoini disse que, se Sarney sair, assume o Marconi (Perillo, tucano), que ele chama de "Perigo". Se renunciar, terá nova eleição e ninguém pode garantir o desfecho. Disse também que esse negócio de desgaste é opinião publicada, inventada pela mídia, e que o povão não está nem aí - contou o deputado maranhense Domingos Dutra, que se considera a maior vítima do apoio incondicional a Sarney.

Procurado pelo GLOBO para confirmar o relato de Dutra sobre o que disse na reunião, Berzoini não retornou as ligações.

Quanto à discussão sobre o que é melhor para o futuro do PT, Genoino (PT-SP) não tem dúvida e confirma:

- A sobrevivência do PT está garantida. O nosso problema é continuar governando o Brasil. No limite, até no Rio Grande do Sul podemos apoiar o PMDB, desde que apoiem Dilma. Se a gente perder o projeto nacional, aí sim é que o PT perde força. Minhas prioridades são: eleger Dilma, a bancada do Congresso e depois governadores - diz Genoino.

O deputado Paulo Rocha (PA), envolvido no escândalo do mensalão e agora pré-candidato ao Senado pelo Pará, considera que Lula tem popularidade de sobra e que o desgaste de apoio a Sarney será neutralizado.

- A base entende que o apoio a Sarney é uma forma de manter o PT no poder - diz o paraense.

- O PT tem que pagar todo o preço que for possível para ter o PMDB em 2010, mesmo que tenha que abrir mão de projetos regionais - concorda o vice-presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

- Existem estados onde o apoio ao PMDB é inegociável. O Rio Grande do Sul é um exemplo. A candidatura do Tarso Genro está consolidada partidariamente e tem elevados índices de aceitação na sociedade. Não há por que, em nome do projeto nacional, abrir mão dessa candidatura própria - discorda o deputado federal Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).