Título: Distrito Federal tem centro de referência
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 12/07/2009, O País, p. 8

Oficinas e jogos levam filho de pedreiro a dar noções de física ao pai.

BRASÍLIA. A diarista Cleudna Barbosa dos Santos não precisa mais levar o filho para o trabalho. Desde abril, Michael Douglas, de 7 anos, estuda de manhã e à tarde na rede pública do Distrito Federal. Ele é um dos 800 alunos do 1º Centro de Referência em Educação Integral do DF, na cidade-satélite da Candangolândia. De manhã, o menino frequenta o 2º ano (1ª série) do ensino fundamental. À tarde, vai para o centro de referência, a Cidade Escola.

De manhã, são cinco horas de aula. À tarde, mais três horas e meia, totalizando oito horas e meia de estudo e lazer - teatro, música, artes, esportes, robótica. Mas a Cidade Escola não se limita a isso. As crianças participam de oficinas de leitura, matemática e literatura. Com jogos e brincadeiras, os professores repassam conteúdos tradicionais. Parte do tempo é reservada para fazer o dever de casa.

O diretor do centro de referência, Fernando Silva Carvalho, explica que há um projeto pedagógico por trás do ensino integral. A ideia não é apenas entreter as crianças, mas garantir que o tempo a mais na escola sirva para melhorar a aprendizagem.

- As oficinas não são definidas ao acaso. Todas elas têm um por quê - diz o diretor.

Professora inventou bingo para ensinar matemática

A pedagoga Sonilda Santos Cordeiro é responsável pela oficina de matemática, que atende crianças do 1º ao 3º ano do ensino fundamental. Ela criou um jogo que faz sucesso.

Como num bingo, cada aluno recebe uma cartela. Em vez de números, há fotos de produtos anunciados em jornais, com o respectivo preço. A cada rodada, o aluno recebe uma cédula de dinheiro em miniatura e "compra" um produto da sua cartela. Quem fica no caixa deve dar o troco. Ganha quem comprar todos os itens da cartela.

- Eles adoram jogar. Nem percebem que estão aprendendo matemática - diz Sonilda.

Na oficina de robótica também se aprende brincando. Os estudantes controlam robôs doados por uma empresa privada e montam pequenos carros e guidastes. Por meio de computadores, movimentam as engenhocas. E dão mais força aos motores acoplando roldanas em série. Para evitar furtos, a sala fica trancada a chave e laptops são guardados no cofre.

- A aula termina e as crianças não vão embora. Um aluno que é filho de pedreiro me disse outro dia: "Meu pai faz força à toa. Na obra dele, só usam uma roldana" - conta o professor Alexandre Viana Araújo da Silva.

Inaugurado em abril, o centro de referência atende estudantes do 1º ao 7º ano de quatro escolas da Candangolândia, sempre no contraturno. Só há vagas, no entanto, para um terço dos alunos da rede regular. Almoço e jantar só começarão a ser servidos no fim do mês, na volta das férias. (Demétrio Weber)