Título: Apenas no Pará, apreensões este ano já dão para encher 525 caminhões
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 12/07/2009, Economia, p. 25

Enfileirados, veículos ocupariam os 13 quilômetros da Ponte Rio-Niterói.

Chegou a 21 mil metros cúbicos o volume de madeira ilegal apreendida no primeiro semestre pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), apenas no Pará. A madeira apreendida na Operação Caça-fantasma é suficiente para encher a carroceria de 525 caminhões. Caso esses veículos fossem enfileirados, daria para ocupar toda a extensão da ponte Rio-Niterói, que tem 13 quilômetros de comprimento.

Nem o Ministério Público Federal (MPF) nem o Ibama arriscam calcular o volume de negócios gerado pelo comércio ilegal de madeira no Pará. A superintendente do Ibama no estado, Lucila Claudia Lago Francisco, acredita que as apreensões e as multas emitidas são indícios fortes do tamanho do problema. Caso essa madeira ilegal não fosse interceptada, acabaria entrando na cadeia produtiva e sendo exportada pelo Porto de Belém.

No site da empresa, clientes como Angelina Jolie

Como não existe nenhum modelo de rastreabilidade para detectar a origem da madeira, o produto ilegal acaba indo parar na casa de celebridades internacionais. A gigante americana Lumbor Liquidators, por exemplo, apresenta em seu site o nome de clientes famosos como Angelina Jolie, Kim Basinger e Donald Trump.

- As empresas no exterior, apesar de não participarem diretamente desse esquentamento, acabam financiando o círculo vicioso no Brasil - comenta Marques Casara, do Observatório Social, um dos autores do estudo "Quem se beneficia com a destruição da Amazônia?".

Ao reconstituir a cadeia produtiva do setor madeireiro, o estudo constatou que a Lumbor Liquidators, por exemplo, é cliente da Pampa Exportações, que, por sua vez, está sendo investigada pelo MPF no Pará. A exportadora brasileira, segundo os procuradores, estaria entre as empresas que mais compraram madeira de empresas fantasmas. Procurados nas duas últimas semanas, os executivos da Pampa não responderam às ligações do GLOBO.

- Enquanto a ponta inicial da cadeia produtiva da madeira sofre com corrupção e desrespeito às leis ambientais; a ponta final, dos consumidores internacionais, tenta amenizar o problema da aquisição de madeira legal - avalia Casara, comentando que, tanto nos EUA quanto na Europa, estão em vigor leis que proíbem a compra de madeira de área desmatada. - O problema é que não temos nenhum tipo de rastreabilidade para detectar a origem da madeira no Brasil.